IV Domingo do Advento

(Is 7,10-14; Sl 23(24); Rm 1,1-7; Mt 1,18-24)

A razão não é o limite.

Caríssimos irmãos e irmãs, hoje celebramos o quarto domingo do Advento, e em pouquíssimos dias, o Natal do Senhor. Nossa alma deveria estar alegre pela chegada de Jesus que, como meditamos nos domingos anteriores, veio, vem e virá. Talvez ainda não estejamos no verdadeiro espírito Natalino, mas como nos restam ainda alguns dias, ainda é tempo de nos prepararmos, e hoje nos propomos a fazer isso através de São José. Sim, fixaremos nosso olhar, na meditação de hoje, naquele que foi escolhido por Deus Pai para custodiar a maior riqueza da humanidade: Jesus e Maria.
Conhecemos bem a história do nascimento de Jesus, porque já a ouvimos muitas vezes, e mais uma vez na liturgia de hoje. Todavia, como as diversas atividades do ano ainda não terminaram, creio que São José poderá nos ajudar muito a nos preparar bem nestes dias que ainda restam antes do Natal. Por quê?
Será que já paramos para meditar seriamente sobre a situação existencial do pai adotivo de Jesus? Creio que o seu drama existencial, especialmente narrado pelo e+vangelista Mateus na liturgia deste Domingo, apresenta-nos uma riqueza realmente impressionante, que pode iluminar muito nossa caminhada terrena. Então nos coloquemos dentro do evangelho.
O que sabemos de São José até aquele momento do seu sonho revelador? Primeiro, que era justo diante de Deus (Mt 1, 19), segundo que era um homem da casa de Davi que tinha Maria por esposa (Lc 1, 27), terceiro, que era um carpinteiro de Nazaré. Estas informações bastam para sabermos o essencial para a nossa meditação de hoje. Era justo e na linguagem bíblica, ser justo significa ser santo, íntegro, adorador, sincero, reto de coração. Maria era sua esposa, mas ainda não viviam juntos (cfr Mt 1, 18). Naquele tempo o matrimônio era celebrado em dois momentos distintos, os esponsais (erusim) que tinham valor jurídico de um matrimônio, mas ainda não tinham celebrado as bodas (nissuim o liqquhim),  que era a celebração propriamente dita, na qual o esposo levava festivamente a esposa para sua casa, o que geralmente acontecia um ano após os esponsais. Além disso, sabemos também que ele era um carpinteiro em Nazaré. Ora, Nazaré era uma vila minúscula (mais ou menos 200 metros de comprimento por 150 de largura) com pouquíssimos habitantes, logo podemos, sem nenhuma dificuldade, crer que José, devido sua profissão, era conhecido por todos.
Estes detalhes fazem toda a diferença para compreendermos seu drama existencial. Naquele minúsculo vilarejo, ele certamente conhecia bem Maria, e por ser justo e reto, interessou-se por uma moça que também era justa, virtuosa, fiel a Deus e a escolheu para ser sua esposa. Mas então chega uma notícia dificílima de aceitar: sua esposa estava grávida! Ele sabia que este filho não era seu, porque eles ainda não moravam juntos, e também sabia, como todos nós sabemos, que uma mulher não engravida sem a participação de um homem. Ao mesmo tempo, ele não tinha dúvidas a respeito da pureza de Maria, ela a conhecia de longo tempo. Como seria possível uma mulher tão virtuosa como Maria, fizesse tal traição?
José, imerso na tristeza de uma aparente traição, numa dúvida terrível, ao mesmo tempo consciente de que qualquer decisão sua teria graves consequências, não quis difamar Maria, porque não lhe desejava o mal, mas ao mesmo tempo sua integridade moral de homem justo não lhe permitia aceitar tal situação, morar com uma mulher em quem não podia, naquela situação, confiar plenamente.
Aí está o seu drama existencial! Estava no limite da sua razão natural: o conhecimento que tinha de Maria e o fato de que ela estava grávida. Mas ele era um homem temente a Deus e decidiu que não viveria esta situação sem rezar. Certamente encontrou uma solução menos drástica justamente através oração. O Evangelho não nos diz que ele tenha pedido qualquer sinal a Deus, assim como ouvimos de Acaz na primeira leitura, porque não quis tentar o Senhor (cfr IS 7, 12).
Então José “que era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo” (Mt 1, 19). Se ele a acusasse, segundo a lei de seu tempo, ela seria apedrejada, portanto sua decisão atrairia sobre ele as terríveis consequências, porque ao deixá-la em segredo, nunca mais poderia retornar à sua vila, onde construíra sua própria vida, porque a má reputação seria atribuída a ele. Portanto, vemos que ele tomou para si as terríveis consequências. Isso significava mudar de lugar, recomeçar uma vida do zero em outro lugar.
Caríssimos irmãos e irmãs, quanta grandeza caráter de José. O Senhor realmente não se engana quando dá uma missão, antes de mais nada, dá a graça necessária para leva-la a termo. Deus sabia bem que era necessária Sua intervenção, porque depois de ter provado José, e uma prova dificílima, sabendo bem não lhe era possível uma solução natural à luz da razão, Ele lhe falou pela fé.
“Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo” (Mt 1, 20-21).
O anjo do Senhor lhe falou em sonho, talvez porque já estava vencido pelo cansaço, não tinha mais forças para pensar, então a resposta de Deus veio como um dom, uma graça.
Caríssimos, quantas vezes não encontramos respostas para os dramas existenciais da nossa vida, quantas vezes também somos vencidos pelo cansaço, pelos problemas aparentemente insolúveis? Por isso mesmo São José hoje é para nós, nesse Domingo, um modelo de fé. Devemos imitá-lo. Isso significa que devemos, como ele, tratar de sermos justos, viver segundo os ensinamentos de Deus, rezar,  em última instância, buscar fazer tudo que é possível, mas aquilo que para nós é impossível, dexemos nas mãos do Senhor, para quem tudo é possível! (cfr Mt 19, 26).
O Senhor nunca nos abandona, nunca nos deixa sós. Devemos buscar ser verdadeiramente homens e mulheres de fé. Não devemos buscar responder tudo, resolver tudo, fazer tudo. Quantas vezes perdemos nosso sono, nosso tempo, nossa alegria e paz interior tentando encontrar uma solução que nos traga uma saída. Contudo, a palavra nos diz:  “Se o Senhor não edificar a nossacasa, em vão trabalham os construtores (...) é inútil levantar de madrufada, ou à noite retardar nosso descanso, para comer o pão sofrido do trabalho, que a seus amados Deus concede enquanto dormem.” (Sl 126).
Então, como São José, nosso primeiro objetivo deve ser buscar viver diante de Deus. Certamente devemos buscar cumprir nossas responsabilidades, mas sem jamais esquecer que “Nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas é Deus que faz crescer porque somos o campo de Deus, o edifício de Deus” (cfr 1Cor 3, 7.9).
Portanto, deixemos um pouco nossas muitas preocupações e busquemos o essencial: preparar bem nosso coração para o Natal de Jesus e se ainda não o fizemos, procuremos uma boa confissão sacramental para o Natal, de modo que o Senhor possa encontrar em nós uma morada acolhedora, ansiosa de Sua presença. O próprio nascimento de Jesus nos faz lembrar que devemos nos fazer pequenos, deixar-nos educar por Maria e por José.
Caríssimos, a razão é sem dúvida importante, mas não podemos esquecer que, nesta vida, devemos também caminhar pela fé, pois a razão não é o limite.
Terminemos rezando a São José, patrono da Igreja de Cristo, para nos ajudar a ter “mãos inocentes e coração puro” - Sl 23(24) – de forma que possamos viver, realmente, um santo Natal e permitir que o nascimento de Jesus possa renovar a nossa fé, esperança e caridade.

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