São Tomás de Aquino - Summa Contra Gentiles (Livro II, cc. VI-XVI)



Como refletimos na aula anterior, a Summa Contra Gentiles apresenta as teses fundamentais do pensamento filosófico-teológico de Santo Tomás de Aquino. O autor expõe e organiza de modo claro e agudo a doutrina católica alicerçada sobre a Filosofia do Ser, cumprindo rigorosamente aquilo que ele, baseando-se em Aristóteles, estabelece como dever do filósofos, pois “(...)os sábios são aqueles que diretamente ordenam as coisas, por isso entre outras funções que os homens os atribuem, a de que pertence a ele ordenar é a proposta pelo filósofo[1]
Das obras publicadas pelo doutor angélico visando uma completa exposição teológica, foi a única que conseguiu concluir. Sob aspecto filosófico a Suma Contra os Gentios se sobressai até mesmo em relação à Suma Teológica, no sentido de que expõe de modo perfeito e exaustivo todas as teses fundamentais da filosofia própria de seu autor. Os capítulos VI a XVI que nos propomos a refletir nesta aula mostram ainda [2]mais o caráter apologético da obra, em especial para esclarecer a doutrina católica ante as heresias dos albigenses, cataros e também do maniqueísmo.
O Aquinate apresenta suas teses fundamentais alicerçada na doutrina de Aristóteles, mas como afirma E. Gilson, não é justo afirmar que sua filosofia é a mesma aristotélica, porque a transfigura substancialmente, o que significa afirmar que portou a sabedoria metafísica no grau de apreensão intuitiva mais universal da qual a razão é capaz. Pretende ainda apresentar da forma mais clara possível que as verdades reveladas pela Sagrada Escritura são absolutamente compatíveis com a razão e ainda mais,  podem ser mais amplamente compreendidas e aprofundadas através dela.
Como refletimos também na aula anterior o santo doutor não exita em citar diversas vezes à Revelação, dando-lhe explicação filosófica, “estou convencido que o principal ofício da minha vida é referente a Deus, de modo que todas as minhas palavras e meus atos saem de Deus.
Nos capítulos VI a XVI do livro segundo, apresenta algumas de suas teses fundamentais a respeito da produção das coisas no Ser, quanto a Substância Divina, entre as quais, as mais importantes são: Deus como princípio do ser das coisas (VI); como a potência de Deus se identifica com sua substância e sua potência se identifica com sua ação (VIII-IX); as relações de Deus referentes às criaturas e como tais relações são atribuídas a Ele (XII-XIV). E finalmente a tese mais importante, como Deus é a causa do ser de todas as coisas e como criou as coisas do nada (XV-XVI), que refuta algumas heresias da época, que ainda possuem resquícios na cultura atual.
Assim, Santo Tomás não apenas elabora e expõe os preâmbulos da fé, como também refuta e ensina a refutar os erros contrários, principalmente dos albigenses, cátaros e os resquícios do maniqueísmo. Tais erros apresentavam uma certa concepção de que o mundo material seria uma criação do Diabo, e com sua eloquente e perspicaz exposição combate ainda a ideia de que a transcendência de Deus o impede de conhecer as criaturas e de que não pode concorrer nos atos das mesmas, de que Deus não possui conhecimento do que é necessariamente universal, material e causado por Ele, que criou o mundo, mas o desconhece, que culmina numa negação senão absoluta, certamente parcial da Providência Divina, tal como a apresentou Santo Agostinho e Boécio.
Tais argumentos são absolutamente pertinentes no diálogo hodierno com a cultura, se não talvez por heresia formal, certamente por uma certa infiltração caricaturada no sentimento religioso popular, efeito do pós-Kantismo, que particularmente percebemos pelo menos no Brasil, mas também no mundo ocidental em geral, de que se Deus existe, não se importa e não mantem relação com a criação, ou partindo para o outro extremo, caindo numa visão demasiadamente negativa do mundo, do corpo e das realidades imanentes.
A Filosofia do Ser perpassa as páginas da SCG informando-lhe todos os argumentos, tendo como princípio fundamental, como anteriormente afirmamos, Deus como princípio do Ser e que em Deus se identificam-se realmente essência e existência, ao passo que nas criaturas distinguem-se realmente, sempre partindo do ponto de partida que a noção do ser é análoga, como vimos no Livro I.
Partindo de tais argumentos e princípios, que constituem a expressão metafísica da realidade, o Aquinate, usando a razão, sempre conotando a realidade objetiva, constrói uma filosofia esplendorosa e é justamente porque não se desliga da realidade existencial que seu pensamente foi tão influente e decisivo, fazendo com que a Igreja o assumisse como sua filosofia e, como tal, pelo mesmo motivo permanece ainda tão atual e importante num mundo onde o problema existencial cerca a vida de todas as pessoas. Logo tal leitura e reflexão filosófica me parece um poderoso instrumento de compreensão e evangelização.

Observações do professor Aiello:

Os argumentos expostos no Livro VIII e IX, são importantes no diálogo a respeito da dignidade da pessoa humana pois, ao afirmar que nas coisas criadas, as potencias e essência não se identificam, se pode concluir que os atos volitivos, a inteligencia e mesmo outras faculdades do homem não são a sua alma, logo quando o ser humana se encontra em alguma situação, onde estas potencias estão inativas, isso não diminui a sua dignidade.
Em Deus, isso não corre, pois Deus è ATO PURO, todos os atributos que dizemos de Deus, podemos dizer também é aquilo que ele é. Por isso podemos dizer que Deus tem misericórdia, e que Ele è Misericórdia.
Em Deus não tem potencias passivas e sim, apenas potencias ativas, porque Deus è ato puro.


Potentia ===> Activa (atualidade) \ passiva (potenzialidade) \ facultas (por ex. Intelecto, vontade, memoria etc)

O texto tambem lança luzes sobre a criação, em senso de que, Deus cria do nada e também porque que Cria. Se pode dizer em certo sentido, que a causa da criacão è a vontade de Deus, e só conhecemos a vontade de Deus através da revelação e a partir disso podemos dizer também que cria para a sua gloria, que é o bem das criaturas, de modo análogo como o bem dos pais è a gloria dos filhos e o bem dos filhos a gloria dos pais.







[1]Cfr. Livro I, c. 1.
[2]Livro II, 2.

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