Heidegger - Que é Metafísica? (II)


Mais aspectos biográficos




Devido a sua infância pobre, recebeu uma bolsa de estudos para estudar em escolas católicas, o autor contudo não tem agradecimento por isso e mesmo sente-se muito humilhado, o que faz com que tenha uma abordagem de confronto com o catolicismo, com os autores católicos, em especial Santo Tomás de Aquino, pois parece ignorá-lo completamente. Foi também aluno de Husserl, porém segue seu próprio caminho, abandonando em parte, a visão filosófica de seu mestre. É também muito influenciado por Kierkegaard, a quem cita nominalmente e de modo especial prende a visão de homem deste autor, como sendo ser de relação.




Conteúdo da obra
A pergunta essencial que norteia o pensamento de Heidegger, como afirmamos no resumo anterior, é a pergunta sobre o ser e por isso, ele mesmo considera-se um metafísico e não um existencialista. Para ele todos os pensadores que pensaram o ser, pensaram sobre o ente, e para ele isto é um erro e uma limitação, e aqui demonstra desconhecimento de Santo Tomás, que como sabemos, ao falar do ente fala de ser e essência. Por esses motivos pensa que entender o ser é essencial para se fazer uma interrogação metafísica, coisa que somente o homem é capaz de realizar.
Sua abordagem é propriamente existencialista na medida em que pensa o homem na perspectiva de sua existência apresentando-o como existente (da= lugar sein=ser), mais do que isso como o “posto” próprio do ser, por isso o homem é capaz de uma interrogação filosófica, é o “ser no mundo”. Outra coisa importante, que demonstra a influência de Kierkegaard, é que quando considera o homem, não o faz apenas sob uma perspectiva racionalística, considerando-o também em suas emoções. Como o homem é ser no tempo, projetado no mundo, deve também assumir essa situação, seu próprio destino, deve ser corajoso para reconhecer que não pode ir além disso, a única transcendência possível é horizontal, sair de si em direção ao mundo, por isso é propriamente um ser para a morte, “para o nada”.
A partir do que foi dito, podemos observar que embora, sua pergunta seja sobre o ser, ele não o faz em perspectiva ontológica, uma vez que não admite uma transcendência vertical, e sim horizontal, assim podemos afirmar que por isso sua abordagem é propriamente fenomenológica e hermenêutica.
Seguindo a lógica do resumo anterior, prendamos nossa atenção sobre a resposta à interrogação metafísica desenvolvida pelo autor. Para chegar a uma resposta se devem seguir duas condições fundamentais, primeiro que qualquer interrogação filosófica abrange sempre a totalidade da problemática do ente, e em segundo que aquele que se faz a interrogação filosófica deve sempre incluir-se nela, e aqui podemos contemplar um grande ensinamento de Heidegger, pois está afirmando que a filosofia não deve ser meramente e demasiadamente especulativa, mas deve também portar consequências concretas para a própria vida ou melhor, para a existência, para usar a linguagem do próprio autor. Aqui vemos o porquê do o autor ser considerado existencialista, pois sua reflexão filosófica propõe que o pensamento ilumine propriamente o agir no mundo, no tempo.
Como se obtém então a resposta à pergunta metafísica? Heidegger sugere que a resposta vem a partir da experiência própria da angústia, que revela o nada, pois a angústia não apreende o nada, mas o re-vela na totalidade do ente, pois o nada aparece como a totalidade do ente, sem se confundir com ele, pois o nada permite o pensamento, não no sentido que se converta em seu objeto próprio, mas enquanto possibilidade de se pensá-lo. A negação, portanto, não origina o nada, e sim o contrário, pois a negação nega algo, e tudo que vem a ser algo, vem a ser o que é do nada (é com o nada: com-siste em nada). O nada é originário da negação.
Daí que entra fundamentalmente a resposta à questão metafísica, porque eis que a metafísica clássica concebe o nada somente a partir do ente e não o ente a partir do nada (ex nihilo nihil fit). Sendo que em toda metafísica o nada acaba sendo oposto ao ente verdadeiro. Hegel, todavia equivale o ser ao nada, definindo com tal oposição histórica, porém ao fazê-lo os equivale e indetermina-os. A partir disso, ciente de que fala a cientistas, apresenta a existência científica que se caracteriza pela busca do que se falta, isto é, a falta que somente é percebida a partir do que se apresenta, logo o que se apresenta, apresenta-se sempre a partir ou simultaneamente com o nada e o faz transcender ao outro, seja o que for este outro. E é justamente a este modo de reflexão que chamamos por metafísica, ultrapassar o ente em sua totalidade.
A ciência, portanto, apresenta dependência da metafísica para ser o que é, logo a metafísica não é uma ciência entre outras, como também não é uma especulação vaga, mas na medida em que é essencialmente transcendência, ela revela a própria condição humana. Tal como dizia Platão “Na medida em que o homem existe, acontece de certa maneira, o filosofar.” Porém, o salto da filosofia não é instintivo nem mesmo automático no homem, antes exige dele esforço extremo, um esforço que permite, contudo, que ele se depare com a própria condição existencial.
Notamos que embora se considere antes de tudo um metafísico, não deixa de ser propriamente existencialista, uma vez que sua pergunta metafísica é feita na perspectiva da existência humana, como ponto de partida e de chegada, o que em si não é bom nem mal, pois se pode ser metafísico sem deixar de ser existencialista e vice-versa. A aparente ignorância de Heidegger a autores como S. Tomás o faz de certa forma fazer um movimento um tanto quanto circular em seu pensamento, porém não consegue responder satisfatoriamente os questionamentos que ele mesmo levanta, tais repostas poderiam vir, contudo através da filosofia medieval, que se coloca também a questão metafísica. A crítica que faz ao idealismo é, contudo, muito consistente.

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