Plotino - • Enéadas (V, 2, 1; V, 3, 13-17; V, 4, 1-2 e VI, 9)
>> domingo, 10 de novembro de 2013 –
FILO ANTIGA
Plotino nasceu em
Licópolis (Egito) foi o mais representativo dos filósofos néoplatônicos e pode
mesmo ser considerado o fundador do neoplatonismo, discípulo de Amônio Sacas e
por onze anos mestre de Porfírio. Escreveu 54 tratados, que posteriormente
foram ordenados e corrigidos por Porfírio a pedido de seu mestre. Seu método
consistia em conduzir seus alunos a reflexões muito abstratas, nas quais
buscava repensar a doutrina dos filósofos precedentes. Individualiza os
problemas metafísicos, que segundo ele, ainda não estavam resolvidos, buscando
dar uma solução.
Seu primeiro tratado surgiu somente
aos 50 anos de vida, fruto dessas reflexões, o que nos permite concluir seu
pensamento já maduro. O nome Enéadas surgiu a partir da classificação feita por
Porfírio, que seguindo a tradição pitagórica tem-se que 54 = 6 x 9, ou seja o
número da perfeição multiplicado pelo número da totalidade. Assim obteve 6
grupos temáticos, contendo 9 tratados, donde “enea”=nove).
Tal classificação não é arbitrária,
pois analisando seu conteúdo podemos notar que o critério editorial tinha o
objetivo de mostrar o caminho para a Sabedoria, dando ao leitor uma formação
filosófica que pretende conduzir ao Bem Absoluto, ou mesmo um itinerário
espiritual de transformação da vida e cura da alma (cf. VI 9, 7-9). Notamos que
influenciou profundamente o pensamento posterior, especialmente o judaico-cristão,
como observamos no curso de Leitura de Obras Medievais com Mons. Clavell ao
lermos Sto Agostinho, Boécio, Sto. Anselmo, Sto Tomás de Aquino entre outros.
A Obra apresente uma Teoria, na
qual Plotino divide o Universo em 3 hipóteses: o Uno, o Nous (ou mente) e a
Alma. Sua concepção é sistemática, porém sujeita a muitas críticas, porque
algumas vezes suas afirmações são un tanto quanto paradoxais e problemáticas.
O Uno refere-se a Deus, dado que sua
principal característica é a indivisibilidade, pois “É em virtude do Uno
(unidade) que todas as coisas são coisas” (cf. VI, 9). A sua
característica principal é, portanto, a simplicidade, que afirma sua
transcendência.
O Nous, é um termo filosófico que
não apresenta uma transcrição direta para o português, mas poderia ser
traduzido como uma certa atividade do intelecto ou da razão em oposição aos
sentidos, os termos mais próximos que encontrei são “inteligência” ou
“pensamento”, ainda que possa ter um significado ambíguo, pois em outros
autores pode determinar diferente conceitos, pois para alguns Nous pode
significar faculdade mental e entros uma certa qualidade de Deus ou do universo.
Como vimos ao estudar a Metafísica de Aristóteles, Anaxágoras descreveu Nous
como força motriz que formou o mundo a partir do caos, já Platão o define como
parte racional e imortal da alma, da qual as grandes verdades emergem. Mas
Plotino parece descrevê-lo como sendo uma das emanações ou precessões do Ser
divino. A sua natureza é ser “pensamento-ser”, “unidade-multiplicidade”,
pensamento perfeito que contém em unidade a multiplicidade.
A Alma deve ser entendida na
perspectiva de uma teosofia, pois é associada ao quinto princípio do homem (Minos),
que seria o elo entre o espírito e a matéria. A alma é, porém, uma das
hipóteses transcendentes e, portanto, é além da matéria, A matéria procede da
Alma. A alma não é alma humana e sim a Alma subsistente que recolhe e unifica
todas as outras almas.
Assim a constituição do homem
adapta-se facilmente ao três elementos essenciais: espírito, alma e corpo,
sendo a alma o elo ente o espírito e o corpo, e aqui podemos fazer também clara
referência a antropologia paulina. Para Plotino, o homem é a sua alma, o corpo
não faz outra coisa que confundir e distanciá-lo da unidade e da simplicidade
do Uno.
A Obra apresenta ainda a Metafísica
de Plotino, na qual os seres provém de Deus. O filósofo não se limita a
atribuir aos seres a causa primeira exemplar e final, ou uma primeira causa
motora, ou uma causa formal, mas determina a causa do seu ser. Fala desta causa
a propósito de cada grau do ser, encontrando o princípio fundamental que dá
unidade a toda a sua teoria.
O princípio fundamental é que todo
ser perfeito é causa eficiente perfeita, ou seja, manifesta a sua perfeição
produzindo um ser à sua imagem, fazendo que sua causalidade goze de um caráter
tríplice: a) o agente dá sem nada perder, assim como o vaso pleno
transborda sem deixar de estar cheio; b) o efeito, por sua vez, é
necessariamente semelhante à causa, participando da sua perfeição e nessa
perspectiva não pode se separar dela e mesmo permanecendo intimamente unida
e imanente, é também separado da causa, o Nous procede do Uno sem se confundir
com ele, embora para ser Nous deve referir-se ao Uno. È a imagem mais perfeita
do Uno, porém diversa a Ele; c) a perfeição do efeito nunca poderá se
igualar aquela que é a sua causa, assim todo princípio é realmente distinto dos
seus efeitos. Plotino afirma isso categoricamente, pois seria absurdo
identificar o perfeito imutável com a imagem imperfeita que dele procede. (cf.
V 3, 12-17)
Plotino demonstra o seu princípio
por analogia, evidenciando que todos os seres que atingem a perfeição, não
repousam na esterilidade e transcendem a sua volta, como o fogo ilumina e
aquece, a neve não conserva em si todo o frio etc. Assim o Ser Perfeito e
Supremo não pode ser nem cioso da sua perfeição, nem impotente para comunicá-la
e necessariamente há de comunicá-la, assim como todo ser perfeito na mesma
medida de sua perfeição (cf. V 4, 1-2) . A origem desse princípio fundamental
do pensamento neoplatônico de Plotino está na intuição do Ser Perfeito, que
para ele é Bondade superabundante e ativa. A Partir disso o universo aparece
constituído por uma hierarquia de seres que procedem e emanam uns dos outros
segundo uma degradação descendente e contínua.
Como seguidor de Platão, reduz ao mínimo o
número de seres no mundo ideal e prova que não pode haver mais do que 3:
primeiramente o SER necessário, plenamente perfeito, que tem o nome de Uno e
sobre o qual não é preciso demonstrar sua existência, porque se impõe por si
mesmo como fonte suprema de toda a realidade. Em seguida vem a dualidade
essencial da Inteligência e depois a pluralidade, que é ainda unificada na Alma
(cf. VI, 9), tendo-se sempre presente que no Nous é presente toda a
multiplicidade.
A Partir das leituras
anteriores feitas nesse curso e no de Obras medievais notamos como tal
pensamento influenciou a apologética cristã com essas armas filosóficas
fornecidas por Plotino, o que faz sua leitura e estudo importante em nosso
plano acadêmico. Contudo não é totalmente claro se Plotino toma para seu
pensamento algo da revelação bíblica, sua doutrina é atraente do ponto de vista
do estudo, porém devendo ser devidamente corrigidas algumas de suas teses mais
fortes.