Platão - O Sofista II
>> domingo, 10 de novembro de 2013 –
FILO ANTIGA
(Resumo)
Continuando nossa reflexão a cerca dessa importe obra de Platão,
veremos como o autor refuta a tese Parmenidiana sobre a impossibilidade no
não-ser e ainda discorreremos brevemente sobre o problema da predicação e da
comunidade dos gêneros.
Nosso ponto de
partida será o debate a cerca do discurso falso em contraposição ao discurso
verdadeiro. Seu objetivo é situar o gênero sofisítico num plano inferior do
conhecimento, em contraste com o saber propriamente filosófico. O sofista seria
um produtor de simulacros (aparências), já o filósofo um criador de discursos
verdadeiros (cópias da verdade) através da dialética.
Para sustentar sua
tese, Platão, através do Estrangeiro, se vê obrigado a refutar a tese Parmendiana
a cerca do não-ser, uma vez que ela poderia servir de defesa aos sofistas. Para
ele o não-ser não pode ser pensado e nem dito, a partir disso o sofista não
poderia ser um produtor de simulacros. No entanto, Platão apresenta a o não-ser
como alteridade do ser e não necessariamente como o seu contrário, demonstrando
assim a possibilidade da existência da falsidade no discurso. Portanto o
discurso falso seria aquele que se refere ao “contrário” daquilo que realmente
“é”, ou seja, “são os não-seres, o que a
opinião falsa concebe”.
Depois de superar
as posições contrárias das doutrinas pluralistas e unitárias a cerca do ser, a
tese de Heráclito sobre irredutibilidade do ser ao movimento, e a tese de
Parmênides sobre o repouso, Platão afirma que o verdadeiro ser (a ideia, a
forma) é, ao mesmo tempo, uno (em relação às suas cópias finitas no mundo sensível)
e múltiplo (em relação à multiplicidade infinita das formas), propondo assim
uma nova teoria do ser, a saber, a do ser metafísico. Notamos que toda a
estrutura do pensamento de Platão está presente na obra e para uma justa
compreensão do texto é necessário tê-la em mente.
Tendo realizado o
seu “parricídio”, Platão chega ao problema da predicação e da comunidade
(comum-unidade) dos gêneros. Ao destacar a relação do ser com o movimento e o
repouso, o autor introduz a ideia de participação (comunidade). Assim, de um
lado nada pode existir sem que possua comunidade com o ser, e por outro nem
todas as coisas participam umas das outras.
Por exemplo, o repouso e o movimento não podem ter comunidade entre si,
uma vez que são essencialmente contrários. O ser, no entanto, se associa a
ambos, pois se assim não fosse não poderiam existir, o que não é verdade.
Bem posto tal
alicerce, Platão volta a discorrer a cerca do filósofo, o que de certa forma
reflete propriamente uma segunda navegação no tema. O estrangeiro atribuirá ao
filósofo a arte da ciência dialética e a capacidade de distinguir os gêneros
mutuamente concordes, como também os que não podem suportar-se mutuamente.
Então o elege os cinco gêneros mais importantes: o ser, o movimento, o repouso,
o mesmo e o outro (diverso). E daí parte para a investigação sobre quais são
mutuamente concordes e quais não são.
O estrangeiro
prova o não-ser como alteridade, pois para ele quando nos referimos ao não-ser,
não estamos necessariamente afirmando algo que seja contrário ao ser, mas
qualquer outra coisa que nao seja propriamente o ser, “sempre que nos referimos ao não-ser, não temos em vista, como parece, o
oposto do ser, porém algo diferente”[1]. Negando, portanto, que a
negação signifique contrariedade, mas apenas algo diferente.
Uma vez
estabelecida a existência do não-ser, resta apenas ao autor, analisar a
natureza do discurso e da opinião e finalmente verificar se o não-ser pode se
associar a eles.
A ordem dada aos
vocábulos é, para o Estrangeiro, o que determina o sentido do discurso, uma vez
que nomes e verbos separados não formam um discurso, da combinação entre eles,
no entanto, o discurso sobre algo surge. Logo, o discurso verdadeiro seria
aquele que apresenta algo como realmente é, e o discurso que apresenta um outro
algo como sendo o mesmo daquilo que realmente é, seria o falso.
Quando parecia se
distanciar da questão central da obra (o sofista), Platão retorna a ele
definindo-o como um imitador do sábio, uma vez que, através de discursos falsos
(simulacros), produz apenas ilusões.
Analisando bem
todo o texto notamos que o pensamento de Platão não é linear, e sim circular, e
esta é uma característica própria de um certo racionalismo. Notamos
particularmente que o contexto contemporâneo é caracterizado por isso, logo a
leitura do texto se torna atraente, uma vez que nos dá instrumentos para ler
com mais clareza o nosso tempo.
Antes de Platão se
falava somente do ser, e justamente a partir de Platão, e propriamente deste
diálogo se coloca a questão do não ser. Isto é uma coisa fundamental, ao menos
no discurso filosófico.
Notamos também uma
característica fundamental de Platão, que consiste em passar sempre de uma
análise mais simples ao plano metafísico, e podemos dizer que as duas coisas
vem propriamente mescladas de tal forma que de um plano se pode passar ao outro
se realizamos uma leitura um pouco mais atenta. Propriamente notamos que a
estrutura da sua metafísica está sempre presente tais como o conceito de
participação, a realidade das Ideias, entre outros. Talvez porque este é um dos
últimos diálogos do autor e representa já a maturidade do seu pensamento, tendo
presente sempre como pano de fundo a metafísica de Platão.
Consideremos ainda
que o conceito que temos hoje, tomado da filosofia tomista quanto ao não-ser,
não é o mesmo de Platão, para quem o não-ser de certa forma é. Absolutamente
para o doutor angélico o não-ser não é. Contudo, para além de criticar ou não
Platão, em minha opinião, o parricídio de Platão foi fundamental para S. Tomás
chegar ao princípio de não contradição. Compreendemos isso melhor quando
analisamos do ponto de vista lógico, uma vez que do ponto de vista metafísico
propriamente o não-ser não é absolutamente.
Aqui a beleza do estudo que acabamos de realizar é compreender Platão em
si mesmo e depois analisarmos também a crítica que lhe é feita por outros
autores e assim compreendermos cada vez mais o contexto atual da filosofia
contemporânea e em que momento nos encontramos