Platão - O Sofista I
>> domingo, 10 de novembro de 2013 –
FILO ANTIGA
(Resumo)
O texto faz parte
dos chamados “diálogos” de Platão e é uma das principais obras do autor, uma
vez que busca definir conceitos importantíssimos para a compreensão da sua
filosofia como um todo. Em especial, o livro expõe a definição de sofista, que
serve de parâmetro também para a definição do filósofo, na qual nota-se uma
radical diferença, seja no que se refere ao método, como também pelos objetivos
e motivações de cada um. O livro apresenta ainda, o problema do erro e a
questão do não-ser, refutando à tese de Parmênides. Outros temas também
aparecem no livro e merecerão explanação em outro momento. Os personagens do diálogo
são Teodoro, Sócrates, Estrangeiro de Eléia e Teeteto. Na narrativa, Teodoro
apresenta a Sócrates o Estrangeiro de Eléia, a quem é incumbida a missão de
encontrar uma definição para o sofista, o político e o filósofo através de um
diálogo com o jovem Teeteto.
A primeira parte do
livro apresenta um diálogo entre o estrangeiro e Teeteto no qual se chegará a
definição do sofista. Para tanto o estrangeiro propõe ao seu interlocutor um
método de investigação repleto de analogias afim de se chegar a uma definição
precisa e justa, este seria, para ele, o tema “mais fácil”, para depois investigar o
tema “mais grandioso”, a saber, o gênenro sofísitico enquanto tal.
Para se chegar a tal
definição, primeiro o Estrangeiro propõe a sofística como uma arte, passível de
classificação entre de aquisição e de produção. A arte de aquisição pode ser
classificada de diversas formas (troca, locação ou compra; captura por caça ou
luta etc.). Compara o sofista a um pescador que fere sua presa com anzol,
atribuindo a ambos uma arte em comum, a de aquisição e o título de caçadores.[1]
Então aparece a
primeira definição de sofista: caçador interesseiro de jovens ricos[2], que com a desculpa de
ensinar, busca suas presas para obter vantagens econômicas. Num segundo
momento, apresenta a segunda definição do sofista “comerciante de ciências”,
pois que “de cidade em cidade vende as
ciências por atacado, trocando-as por dinheiro,” assim o gênero sofístico
seria enquadrado no plano da arte de aquisição, da “troca comercial, da importação espiritual, que negocia discursos e
ensinos relativos à virtude.”[3]
Notamos como Platão desenvolve
sua definição de sofista através da boca do estrangeiro de Eléia, onde deixa
claro sua repulsa e radical oposição a postura do filósofo, que é propriamente
um sábio, capaz de dominar a arte da ciência dialética e distinguir quais os
gêneros mutuamente concordes e os que não podem suportar-se. Sendo cinco os
gêneros mais importantes apresentados pelo Estrangeiro: o ser, o movimento, o
repouso, o mesmo e o outro.
O sofista é,
portanto, um “pequeno comerciante de primeira ou de segunda mão” e ainda um
erístico mercenário que se utiliza da arte da contestação para ganhar dinheiro
em debates privados, é definido também como um refutador e purificador de
almas.[4]
Ao falar das artes
miméticas (ilusionistas), afirma que o sofista aparenta possuir uma ciência
universal, mas não a possui de fato, apenas dá a impressão de parecer
verdadeiro tudo aquilo que diz. A mimética é apresentada sob dois aspectos: a) arte
de produzir imagens, b) arte de copiar, podendo ser fiel ou infiel à cópia,
neste último caso, mera produtora de simulacros.
O texto aborda ainda a questão do não-ser, sobre a qual pretendo
desenvolver no próximo resumo, me adiantando agora em dizer que Platão, sempre
pela boca do estrangeiro de Eléia, se distancia da tese de Parmênides, que
distingue dois caminhos: o caminho do ser, da verdade e que deve ser
seguido, e o caminho do não ser, da opinião, que não pode sequer ser
objeto do pensamento, pois para ele “O mesmo é o que é o pensar e o
pensamento de que é.” [5]
Na obra de Platão, no
entanto, para falar de discursos ou opiniões falsas, imagens, cópias ou
simulacros sem se contradizer, o estrangeiro demonstra que o não-ser, em certo
sentido é, uma vez que pode ser pensado.
Deste primeiro
resumo podemos extrair diversos ensinamentos e reflexões, aqui me atenho a uma:
qual é a vocação do verdadeiro filósofo?
Aqui Platão me parece em sintonia com Aristóteles que em sua obra
Metafísica afirma que a vocação do filósofo é busca a verdade última e das
primeiras causas (sabedoria). Depois dessa
leitura, podemos dizer que o filósofo deve fugir das falsas opiniões e do erro,
bem como do interesse meramente pragmático e material de sua busca. Concluo
também que uma coisa é ser professor de filosofia e uma outra bem diversa é ser
propriamente um filósofo. A partir das leituras do nosso curso e da nossa
reflexão pessoal, podemos nos indagar: em que posição nos encontramos? Um
pesquisador perseverante da verdade ou um mero comerciante (transmissor) de
idéias de primeira ou de segunda mão?