Platão - O Sofista I

(Resumo)

O texto faz parte dos chamados “diálogos” de Platão e é uma das principais obras do autor, uma vez que busca definir conceitos importantíssimos para a compreensão da sua filosofia como um todo. Em especial, o livro expõe a definição de sofista, que serve de parâmetro também para a definição do filósofo, na qual nota-se uma radical diferença, seja no que se refere ao método, como também pelos objetivos e motivações de cada um. O livro apresenta ainda, o problema do erro e a questão do não-ser, refutando à tese de Parmênides. Outros temas também aparecem no livro e merecerão explanação em outro momento. Os personagens do diálogo são Teodoro, Sócrates, Estrangeiro de Eléia e Teeteto. Na narrativa, Teodoro apresenta a Sócrates o Estrangeiro de Eléia, a quem é incumbida a missão de encontrar uma definição para o sofista, o político e o filósofo através de um diálogo com o jovem Teeteto.
A primeira parte do livro apresenta um diálogo entre o estrangeiro e Teeteto no qual se chegará a definição do sofista. Para tanto o estrangeiro propõe ao seu interlocutor um método de investigação repleto de analogias afim de se chegar a uma definição precisa e justa, este seria, para ele, o  tema “mais fácil”, para depois investigar o tema “mais grandioso”, a saber, o gênenro sofísitico enquanto tal.
Para se chegar a tal definição, primeiro o Estrangeiro propõe a sofística como uma arte, passível de classificação entre de aquisição e de produção. A arte de aquisição pode ser classificada de diversas formas (troca, locação ou compra; captura por caça ou luta etc.). Compara o sofista a um pescador que fere sua presa com anzol, atribuindo a ambos uma arte em comum, a de aquisição e o título de caçadores.[1]
Então aparece a primeira definição de sofista: caçador interesseiro de jovens ricos[2], que com a desculpa de ensinar, busca suas presas para obter vantagens econômicas. Num segundo momento, apresenta a segunda definição do sofista “comerciante de ciências”, pois que “de cidade em cidade vende as ciências por atacado, trocando-as por dinheiro,” assim o gênero sofístico seria enquadrado no plano da arte de aquisição, da “troca comercial, da importação espiritual, que negocia discursos e ensinos relativos à virtude.[3]
Notamos como Platão desenvolve sua definição de sofista através da boca do estrangeiro de Eléia, onde deixa claro sua repulsa e radical oposição a postura do filósofo, que é propriamente um sábio, capaz de dominar a arte da ciência dialética e distinguir quais os gêneros mutuamente concordes e os que não podem suportar-se. Sendo cinco os gêneros mais importantes apresentados pelo Estrangeiro: o ser, o movimento, o repouso, o mesmo e o outro.
O sofista é, portanto, um “pequeno comerciante de primeira ou de segunda mão” e ainda um erístico mercenário que se utiliza da arte da contestação para ganhar dinheiro em debates privados, é definido também como um refutador e purificador de almas.[4]
Ao falar das artes miméticas (ilusionistas), afirma que o sofista aparenta possuir uma ciência universal, mas não a possui de fato, apenas dá a impressão de parecer verdadeiro tudo aquilo que diz. A mimética é apresentada sob dois aspectos: a) arte de produzir imagens, b) arte de copiar, podendo ser fiel ou infiel à cópia, neste último caso, mera produtora de simulacros.
O texto aborda ainda a questão do não-ser, sobre a qual pretendo desenvolver no próximo resumo, me adiantando agora em dizer que Platão, sempre pela boca do estrangeiro de Eléia, se distancia da tese de Parmênides, que distingue dois caminhos: o caminho do ser, da verdade e que deve ser seguido, e o caminho do não ser, da opinião, que não pode sequer ser objeto do pensamento, pois para ele “O mesmo é o que é o pensar e o pensamento de que é.” [5] Na obra de Platão, no entanto, para falar de discursos ou opiniões falsas, imagens, cópias ou simulacros sem se contradizer, o estrangeiro demonstra que o não-ser, em certo sentido é, uma vez que pode ser pensado.
Deste primeiro resumo podemos extrair diversos ensinamentos e reflexões, aqui me atenho a uma: qual é a vocação do verdadeiro filósofo?
Aqui Platão me parece em sintonia com Aristóteles que em sua obra Metafísica afirma que a vocação do filósofo é busca a verdade última e das primeiras causas (sabedoria).  Depois dessa leitura, podemos dizer que o filósofo deve fugir das falsas opiniões e do erro, bem como do interesse meramente pragmático e material de sua busca. Concluo também que uma coisa é ser professor de filosofia e uma outra bem diversa é ser propriamente um filósofo. A partir das leituras do nosso curso e da nossa reflexão pessoal, podemos nos indagar: em que posição nos encontramos? Um pesquisador perseverante da verdade ou um mero comerciante (transmissor) de idéias de primeira ou de segunda mão?



[1] Cfr. Platão, O Sofista. Tradução. Carlos Alberto Nunes. EbooksBrasil. Abril 2003. Pag. 07.
[2] Cfr. Ibidem p. 09.
[3] Ibidem, p. 10.
[4] Cfr. Pag. 16.
[5] Parmennides. Poema Sobre a Natureza, Fr 8,34.

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