Parmênides - Poema Sobre a Natureza
>> domingo, 10 de novembro de 2013 –
FILO ANTIGA
(Resumo)
O Poema “Sobre a natureza” de Parmênides apresenta como tema
principal o Ser. Podemos dividi-lo em 2 partes distintas entre
si, seja em relação ao conteúdo, como também ao gênero literário: 1ª) Proêmio
(Fr 1); 2ª) parte ontológica ou metafísica (Fr 2-7) que fala sobre as
características do caminho da verdade (Fr 8, 1-49) e sobre a opinião, doxa,
(Fr 8,50 até o fim da obra).
Em relação ao gênero literário, o proêmio tem caráter claramente
poético-mítico, bem ao estilo grego clássico, a segunda e terceira parte possui
um caráter altamente argumentativo e lógico e no fim do poema, Parmênides
retoma o estilo poético, porém com conteúdo cosmológico muito semelhante aos
escritos contemporâneos ao filósofo.
O proêmio narra a “viagem de espírito” de Parmênides conduzido
pela divindade a fim de purificar o conhecimento e encontrar o
caminho da verdade, o que faz dele um “iluminado”, pois a maior parte dos
homens não percorre este caminho. Apresenta um duplo objetivo, demonstrar a
escola filosófica frequentada por ele, já que faz referência semântica aos mais
variados filósofos e poetas da tradição grega (Homero, Hesíodo, Anaximandro, Heráclito,
Xenófanes e escola pitagórica) e também de exortar o leitor, pois no final
justifica a divisão formal do poema.
Tal viagem simboliza a passagem do conhecimento
sensível imediato e superficial ao conhecimento racional filosófico. Parte do
reino dos entes sensíveis, objeto de opinião captado pelos sentidos, e chega ao
ser, verdade, captado pela razão, ou seja, da multiplicidade dos entes
diversificados pela opinião (dóxa), para a unidade do Ser, reino da
verdade uma e universal (epistéme). Equivale dizer, do reino do Devir e
da instabilidade para o reino do Uno, imutável e imóvel.
A partir do encontro com a deusa (Fr 1, 24) começa o discurso a
respeito do caminho da verdade (epistéme) e da opinião (doxa). A
deusa afirma que o caminho da verdade só pode ser atingido através do abandono
do conhecimento sensível em direção ao conhecimento racional, a fim de
descobrir e desvelar a verdade escondida nos seres, imutável e imóvel.
Justamente por isso é um caminho difícil e não habitualmente frequentado pelos
homens, geralmente presos ao conhecimento sensível, contingente e equívoco.
O caminho da opinião (doxa) é explicado como um primeiro
discurso que não é digno de confiança, aparenta ser verdadeiro, mas não o é,
uma vez que tem como objeto também o não ser, que na verdade não
é e não pode ser.
Na segunda parte do poema a deusa explica o caminho correto
a ser seguido pelo sábio: o caminho do ser, da verdade, pois
o não ser não pode ser pensado e nem mesmo dito, pois “O mesmo
é o que é a pensar e o pensamento de que é (Fr 8,34)”, ou seja, o
mesmo é pensar e ser. Porque o ser e o
pensar são idênticos, já que o “pensar” se assenta no próprio pensamento, que é
oposto ao conhecimento sensível, parcial e contingente. O ser e o
pensar se identificam, segundo a divindade, porque se refere à possibilidade de
se conhecer o Absoluto, pois somente quando o pensamento está ligado a este ele
não erra. Assim só se erra (doxa) quando o Ser absoluto é abandonado em
virtude do conhecimento sensível. A deusa estabelece ainda a natureza do
pensamento radicada no Ser, onde não existe o nada. Logo, como vimos em
sala de aula, chega-se ao princípio de identidade.
Ainda na segunda parte surge uma referência aos “homens de duas
cabeças” que parece aludir á dialética dos contrários de Heráclito e a alguns
elementos do escola pitagórica, que atribuíam o início (arché) aos
opostos (limitado e ilimitado, par e ímpar). Na minha opinião parece também
criticar o espírito humano (falível) em comparação ao espírito divino
(infalível).
Portanto, além do proêmio, cujo objetivo já expliquei acima, as
outras partes do poema visam demonstrar 2 coisas: o pensamento unívoco (a
Verdade) e o pensamento equívoco (as opiniões). O que é necessariamente
singular e o que é necessariamente plural. São caminhos que não se cruzam e tem
em comum apenas o fato de serem modos de pensamento, um é verdadeiro e o outro
errante (Fr 6,6).
O conteúdo do poema a respeito das opiniões praticamente obrigou-me
a ler também a terceira parte do poema, ainda que não estivesse prevista,
questionando-me o por quê de se dedicar ainda uma reflexão sobre elas já que
conduzem ao erro e encontrei a seguinte resposta: as opiniões ainda que
errôneas, são inevitáveis, uma vez que são consequência de todo e qualquer
discurso a respeito do que é real e também porque ao descrever o caminho das
opiniões fica ainda mais evidente o seu caráter falível.
A leitura do poema me deixou claro a importância do caráter
lógico-racional da filosofia para chegar ao conhecimento da verdade. Ao mesmo
tempo convenceu-me porque Parmênides é apresentado como o homem “iluminado” (Fr
1,3), pois conhece a tradição mítico-poética (proêmio), a lógica da não
contradição (verdade) e a lógica da contradição (cosmologia/opiniões)