Aristóteles - Metafísica (livro IV, 1-6)

(Resumo) 1

O livro IV da Metafísica de Aristóteles (cap 1-6) apresenta três pontos importantes: a) A Metafísica é ciência do “ser enquanto ser”; b) o significado do “ser”, suas noções e a relação com o “uno”; c) o estudos dos axiomas, em especial o princípio de “não contradição”. Traz ainda uma crítica aos sofistas, especialmente a Protágoras, mostrando que o relativismo deles é insustentável principalmente no que se refere ao princípio de não contradição. Estabelece ainda os princípios ontológicos que dizem respeito a relidade e consequentemente o modo de conshecê-la, também chamado por alguns comentadores de princípios da Lógica, que são a base para todo e qualquer raciocínio coerente.

a) Depois de todas as justificativas dos livros anteriores, como já vimos em aula, Aristóteles afirma que a Metafísica não é uma ciência particular como por exemplo a matemática e outras, pois estas se limitam a estudar apenas aspectos particulares do ser, não englobando a sua totalidade. A Metafísica, diferentemente, estuda o “ser enquanto ser”, naquilo que tem em comum com todos os outros seres, em si mesmo e todas as suas propriedades. Afirma ainda que à Metafísica compete também o estudo dos princípios da 
lógica, uma vez que eles valem para todos os seres. Além disso ela busca também os princípios supremos e as causas dos seres, ou seja, aquilo que deu origem, sustenta e é o fim de todos. Os filósofos pré-socráticos, na visão de Aristótles, tentaram solucionar o problema da origem, sustentação e finalidade do ser, mas o fizeram apenas através da causa material, o que é insuficiente.

b) “O ser se diz de várias maneiras, mas empre em referimento a uma unidade e a uma realidade determinada.”2
Afirma que o ser tem múltiplos significados e não deve ser analisado como algo fixo, pois não pode ser dito de forma unívoca e sim análoga, o que influenciou diretamente toda a filosofia posterior. Pode ser dito enquanto matéria, universal, gênero, acidente etc, mas é ao modo de substância que é dito mais propriamente. Por exemplo, o branco pode ser dito como acidente, pois não subsiste por si, depende de outro para ser, contudo podemos dizer que o “branco é”, o que permite pensá-lo enquanto ser, ainda que não em sentido próprio. Assim, “o ser e o uno são a mesma coisa e uma realidade única3 e possuem a mesma noção, pois cada coisa concreta é uma substância una.

c) O princípio de não contradição afirma que uma coisa não pode “ser” e “não-ser” ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, ou seja, uma coisa concreta (tode ti) é aquilo que é e não pode ser outra coisa. Um homem não pode ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto um não-homem, pois os contrários não podem coexistir no mesmo sujeito. Assim todo raciocínio deve ter o princípio de não contradição na sua base, pois não é uma mera hipótese e sim algo seguro “sobre o qual é impossível errar.4 O Filósofo introduz ainda outro conceito importante para a filosofia, que tal princípio é indemonstrável a não ser por refutação, pois não se pode demonstrar tudo ao infinito e o que é evidente não necessita de prova.

A partir disso demonstra que o relativismo sustentado pelo sofistas e especialmente por Protágoras é inconsistente. Pois, se tudo o que chega a nós pelos sentidos é verdadeiro e os homens possuem opiniões contrárias sobre as aparências sensoriais, conclui que essas deverão ser verdadeiras e falsas ao mesmo tempo o que já foi demonstrado como contraditório. Portanto o erro está em acatar todas as impressões sensoriais como verdadeiras.
Surge então um novo questionamento, como uma coisa pode gerar impressões contrárias neste ou naquele? A resposta está no fato de que uma coisa pode possuir os contrários em potência, mas não em ato. Por exemplo, um alimento pode ser doce ou amargo, mas em potência, pois em ato ou será doce ou será amargo.

O argumento sustentado pelos filósofos anteriores a Aristóteles é o seguinte: as coisas sensíveis estão em constante movimento e do mutável não se pode dizer nada de verdadeiro, pois quando se afirma algo sobre ela, ao terminar de dizer tal realidade já teria apresentado mudança. Aristóteles faz objeção a este raciocínio da seguinte forma: quando uma coisa muda ainda conserva elementos daquilo que vai perdendo e vai ganhando elementos daquilo que se vai transformando, concluindo que a mudança é a passagem de um ser determinado a outro ser determindo. Além disso os que sustentam que o ser e o nao-ser estão juntos em uma mesma realidade, devem afirmar também que ela está em repouso e não em movimento, o que cai em contradição.
A respeito do axioma do terceiro excluído, afirma que entre o ser e o não ser não existe um meio termo, ou “é” ou “não é”, pois se houvesse um meio termo entre os contraditórios, não se poderia dizer que esse algo “é” e nem que “não é” e levando isso as últimas consequências, se passaria a ter um termo médio entre a geração e a corrupção algo que teria meia “existência” o que é inconcebível.


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1 Cfr. ARISTÓTELES, Metafísica, Livro IV, 1-6, 1003 a 20-1011 b 22.
2 Ibidem, 1003 a 33
3 Ibidem, 1003 b 22
4 Ibidem, 1005 b 11.

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