São Tomás de Aquino - De Veritate (Q1)
>> segunda-feira, 29 de julho de 2013 –
Filo Medieval
Santo Tomás de Aquino é, como vimos nas aulas anteriores, o
maior teólogo do cristianismo e o mesmo se pode dizer quanto ao sua qualidade
de filósofo. Por isso é habitualmente chamado de “doutor angélico”. Sua
precisão argumentativa teológica não ofusca de modo algum sua excelência
filosófica, até porque, soube fazer da filosofia seu poderoso instrumento teológico,
a exemplo de tantos outros santos católicos como Santo Agostinho, Santo Anselmo
entre outros. Na Obra que nos propomos a estudar fica evidente tudo isso.

De Veritate é classificada geralmente no terceiro
dos quatro grupos das obras de Santo Tomás, ou seja, o das “questões
disputadas” (Da Verdade, Da Alma, Do mal, etc). No primeiro grupo estariam os
“comentários” (à Lógica, à Física, à Ética de Aristóteles, à Sagrada Escritura,
etc), no segundo grupo as “sumas” (Contra os Gentios, Teológica) e no quarto
grupo os “opúsculos” (Da Unidade do intelecto contra os averroístas e Da
Eternidade do Mundo).
Todos os filósofos em algum momento na exposição de seu
pensamento abordaram a questão da verdade e nessa obra o tema da Verdade é o
centro da reflexão do Aquinate, a define “como uma certa adequação entre a
inteligência e a coisa”. Da afirmação se conclui algumas coisas,
primeiramente que pressupõe uma relação, ou seja ela não é algo isolado dentro
da ordem das coisas que são, e tal relação tem vários modos, várias
características que podemos postular.
A explicação dessa relação nos permite afirmar por exemplo,
porque sua filosofia é realista, porque
pressupõe a realidade dos entes ou seja, a verdade está primeiramente nas
coisas como fonte, daí não podermos dizer que há falsidade nas coisas, a
falsidade está no intelecto, que pode julgar. O segundo pressuposto é que a
verdade se dá formalmente na inteligência, ou seja, conhecer algo tem sempre um
caráter de intencionalidade.
Além disso sua exposição concorda e aprimora a de Santo
Agostinho, quando afirma que “A Verdade é o meio pelo qual se manifesta
aquilo que é”. A verdade deve estar, portanto, nas coisas e no intelecto e
ambas convergem junto com o ser. O “não-ser” não pode ser verdade até que a
inteligência humana o torne conhecido, ou seja, quando for apreendido através
da razão. Daí a conclusão de que somente
se pode conhecer a verdade quando se conhece o que é o ser.
A verdade poderia ainda ser vista como virtude, como afirmava
Aristóteles, porém o bem é posterior a ela, porque a verdade é mais íntima ao
ser, de modo que o que o sujeito tiver do bem, depende do intelecto, já a
verdade não, por quando o intelecto apreende o ente, apreende imediatamente a
verdade, por isso racionalmente a verdade é anterior ao bem. Por isso, o
intelecto apreende o ser em si, depois a definição do ser e por ultimo a sua
apetecibilidade, ou seja, primeiramente a noção do ser, a construção da verdade
e por fim o bem.
A obra continua apresentando atualidade na medida e que a
existência da Verdade, como se chega a ela e como transmiti-la seja tema
constante da discussão filosófica posterior e de certa forma, poderíamos
afirmar com segurança, o tema mais constante na pregação do sumo pontífice
Bento XVI.