São Tomás de Aquino - De Veritate (Q1)

Santo Tomás de Aquino é, como vimos nas aulas anteriores, o maior teólogo do cristianismo e o mesmo se pode dizer quanto ao sua qualidade de filósofo. Por isso é habitualmente chamado de “doutor angélico”. Sua precisão argumentativa teológica não ofusca de modo algum sua excelência filosófica, até porque, soube fazer da filosofia seu poderoso instrumento teológico, a exemplo de tantos outros santos católicos como Santo Agostinho, Santo Anselmo entre outros. Na Obra que nos propomos a estudar fica evidente tudo isso.

Dentre os aspectos tratados a respeito da Verdade delineados na obra, podemos destacar uma nota fundamental da filosofia tomista, o quanto ela é “realista”, ou seja, parte da realidade das coisas, não de ideias imaginadas pelo filósofo, da qual se conclui todo um sistema coordenado de teses. Parte da percepção sensível do mundo, para extrair seu conjunto de teses absolutamente harmoniosas entre si. Daí que bem disse a respeito da filosofia tomista o papa Leão XIII, na Encíclica Aeterni Patris, “O doutor angélico buscou as conclusões filosóficas nas razões principais das coisas, que têm grandíssima extensão e conservam em seu germe de quase infinitas verdades, para serem desenvolvidas em tempo oportuno e com abundantíssimo fruto pelos mestres dos tempos posteriores.
De Veritate é classificada geralmente no terceiro dos quatro grupos das obras de Santo Tomás, ou seja, o das “questões disputadas” (Da Verdade, Da Alma, Do mal, etc). No primeiro grupo estariam os “comentários” (à Lógica, à Física, à Ética de Aristóteles, à Sagrada Escritura, etc), no segundo grupo as “sumas” (Contra os Gentios, Teológica) e no quarto grupo os “opúsculos” (Da Unidade do intelecto contra os averroístas e Da Eternidade do Mundo).
Todos os filósofos em algum momento na exposição de seu pensamento abordaram a questão da verdade e nessa obra o tema da Verdade é o centro da reflexão do Aquinate, a define “como uma certa adequação entre a inteligência e a coisa”. Da afirmação se conclui algumas coisas, primeiramente que pressupõe uma relação, ou seja ela não é algo isolado dentro da ordem das coisas que são, e tal relação tem vários modos, várias características que podemos postular.
A explicação dessa relação nos permite afirmar por exemplo, porque sua filosofia é realista,  porque pressupõe a realidade dos entes ou seja, a verdade está primeiramente nas coisas como fonte, daí não podermos dizer que há falsidade nas coisas, a falsidade está no intelecto, que pode julgar. O segundo pressuposto é que a verdade se dá formalmente na inteligência, ou seja, conhecer algo tem sempre um caráter de intencionalidade.
Além disso sua exposição concorda e aprimora a de Santo Agostinho, quando afirma que “A Verdade é o meio pelo qual se manifesta aquilo que é”. A verdade deve estar, portanto, nas coisas e no intelecto e ambas convergem junto com o ser. O “não-ser” não pode ser verdade até que a inteligência humana o torne conhecido, ou seja, quando for apreendido através da razão. Daí  a conclusão de que somente se pode conhecer a verdade quando se conhece o que é o ser.
A verdade poderia ainda ser vista como virtude, como afirmava Aristóteles, porém o bem é posterior a ela, porque a verdade é mais íntima ao ser, de modo que o que o sujeito tiver do bem, depende do intelecto, já a verdade não, por quando o intelecto apreende o ente, apreende imediatamente a verdade, por isso racionalmente a verdade é anterior ao bem. Por isso, o intelecto apreende o ser em si, depois a definição do ser e por ultimo a sua apetecibilidade, ou seja, primeiramente a noção do ser, a construção da verdade e por fim o bem.

A obra continua apresentando atualidade na medida e que a existência da Verdade, como se chega a ela e como transmiti-la seja tema constante da discussão filosófica posterior e de certa forma, poderíamos afirmar com segurança, o tema mais constante na pregação do sumo pontífice Bento XVI.

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