São Boaventura - Itinerário da Mente a Deus (Cap I a IV)
>> segunda-feira, 29 de julho de 2013 –
Filo Medieval
O Itinerário da mente a Deus foi
considerado por muitos comentadores, a principal Obra de São Boaventura, ou
pelo menos, aquela expressa de forma mais evidente sua escola filosófica e
mesmo teológica, caracterizada por um espírito que lhe é próprio e escolhido
conscientemente em direção a um fim bem determinado, o Amor de Deus. Pretendo nesse breve resumo destacar alguns elementos que me chamaram atenção na
leitura, tendo em vista os últimos textos sugeridos em nosso plano de estudos.
Diferentemente de Sto Anselmo (Menologium)
e mais ao estilo de Sto Agostinho (De libertate arbitrii), São Boaventura
não apresenta restrição em fazer filosofia com clara referência a Revelação,
como se nota na obra em diversos trechos e em especial já no primeiro parágrafo
“Começo por invocar o primeiro Princípio, isto é, o eterno Pai, 'Pai
das luzes', fonte de todo conhecimento (gnosis) (...) Invoco-O
por meio de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, para que pela intercessão da
Santíssima Virgem Maria (...) 'ilumine os olhos'
(Ef 1,17 ss).”[1]Este
aspecto deve ser levado em consideração porque revela a própria forma e
finalidade com a qual o santo enxerga a filosofia, como um instrumento para se
chegar a Deus.
Além disso, o obra revela a visão
gnoseológica do santo, e o papel fundamental da graça, no processo de
conhecimento de Deus, a clara alusão e desenvolvimento da teoria da iluminação
também expressa por Santo Agostinho e ainda sua visão antropológica.
Para o santo, a alma humana apresenta em si
uma imagem imperfeita do próprio Deus, e através dela (sentidos, espírito e
mente), iluminada pela graça, poderá contemplar essa imagem de um modo mais
perfeito. “Segundo esta tríplice maneira de nos elevarmos progressivamente a
Deus (isto é: pelas criaturas, pela alma e por Deus), a nossa alma possui três
principais vias para perceber. Na primeira, olha sobre as coisas corporais e
exteriores — pelo que se chama 'animalidade'
ou sensitividade. Na segunda, olha sobre si mesma e dentro de si mesma — e se
chama, por isso, espírito. Na terceira, olha acima de si mesma — e se denomina
então mente. Estas três faculdades devem servir-nos para elevarmo-nos a Deus,
para amá-l'O 'com toda nossa
mente, com todo nosso coração, com toda nossa alma'(Mc
12,30).”[2]
O objetivo da obra não é meramente a
especulação racional e sim a fé, e é a serviço dela que a filosofia adquire
importância, pois passa a ser fundamental para se compreender o que se ama.
O capítulos 1 e 2, traduzidos em português
como “A elevação a Deus por meio do universo” e “A contemplação de
Deus nos seus vestígios impressos no mundo sensível” expressam essa
realidade, bem como a influência da teoria da iluminação agostiniana, como se
vê no emprego dos termos “vestígio” e “imagem”.
O primeiro é aplicado às criaturas, tanto
as espirituais quanto as corporais, que representam Deus como causa determinada
e inconfusa (causa eficiente, formal e final), pois os vestígios levam ao
conhecimento (gnosis) dos atributos peculiares a Deus, como o poder,
sabedoria, bondade e por isso permitem vislumbrá-Lo. Assim, quando o santo fala
da contemplação de Deus “ad extra” refere-se a subida progressiva da alma em
direção a Deus realizada através das criaturas. Portanto, contemplar Deus nos
seus vestígios significa contemplá-Lo não já no mundo exterior ao homem, mas no
mundo, que na sua semelhança intecional divina, entra no homem pela porta dos
sentidos.
O termo “imagem” deve ser explicado aos
seres que também são espirituais, incluindo o homem, e através dos quais se
pode contemplar os atributos próprios da Trindade, tais como paternidade,
filiação etc. E é justamento por meio da “imagem” que o homem pode
assemelhar-se a Deus pelo conhecimento e pelo amor, Como expressa de modo
particular nos capítulos 3 e 4, “A contemplação de Deus por meio de sua
imagem impressa nas potências da alma” e “A contemplação de Deus na sua
imagem: a alma renovada pelos dons da graça”.
Outros aspectos
ainda me chamaram
atenção, tal como o papel do desejo na busca de Deus, “(...) o desejo tem
por objeto principal aquilo que mais nos atrai. Ora, o que mais nos atrai é
aquilo que mais amamos. E o principal objeto do amor é a felicidade. Mas a
felicidade não se encontra senão no sumo Bem”[3]
e ainda como especifica os diversos aspectos da alma e suas respectivas
finalidades, “Vê, pois, como a alma está próxima de Deus. Vê como a memória
nos conduz à eternidade, a inteligência à verdade, a vontade à sua bondade
soberana, de acordo com as suas respectivas operações.”[4]
observações
do “mestre” Mons. Clavell
- considerações sobre a Teologia simbólica
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