Santo Anselmo - Monológio
>> segunda-feira, 29 de julho de 2013 –
Filo Medieval
(cap I-XIV)
Santo
Anselmo compõe o Monológio em 1076 a pedido do bispo Lanfranco, a quem dirige
uma carta no início da Obra e também dos monges do mosteiro ao qual era Abade,
que pediram insistentemente para colocar em escrito aquilo que ouviram falar de
seu mestre e prior em suas meditações[1].
A obra tem um objetivo claro, mostrar tudo o que é possível sobre a Essência
Divina, sem recorrer às Sagradas Escrituras,
Fica claro também a influência de Sto. Agostinho em sua formação, pois
ele mesmo o cita em seu Prólogo, e segundo o próprio autor, a leitura de tal
introdução é fundamental para compreender o que pretender expor[2]
Para
melhor compreensão da obra, devemos também levar em consideração o contexto
filosófico em que foi escrita, pois havia uma discussão fervorosa entre
dialéticos e teólogos, conforme assinala Etiene Gilson, “a pretensão
ostentada por alguns de submeter o dogma e a revelação às exigências da dedução
silogística, deveria conduzi-los infalivelmente a conclusões mais radicais, ao
mesmo tempo que deveria suscitar a mais violente reação de parte dos teologos.”[3]
Seguindo,
portanto, a premissa “crer para entender e entender para crer”
agostiniana, Anselmo se dispõe a escrever o Monológio, sem medo algum de estar
fazendo algo contrário a fé e com a certeza de estar prestando um grande
serviço a ela, pois acreditava piamente que um cristão não pode descurar
daquilo que crê e ainda mais, deve saber dar razão ao que crê.
Antes
de adentrar no conteúdo do Menológio, podemos notar também que está muito claro
para o santo, que a fé não se opõe jamais à razão, visto que Deus mesmo deixou
sua marca em suas criaturas, e o reto uso da razão contitui uma via para o
conhecimento de Deus. Idéia esta que esta muito presente ainda hoje, se
levarmos em conta em especial o pontificado de Bento XVI e também de João Paulo
II, que dedicou uma profunda reflexão a respeito do tema na encíclica Fides
et Ratio.Posto estas idéias fundamentais, mergulhemos no conteúdo da obra.
O
dado em questão é a existência de Deus, o Ser do qual não se pode conceber nada
mais grandioso nem mais perfeito, como acreditam os cristãos. O problema que a
Obra se propõe a resolver racionalmente é se Ele existe realmente ou apenas
como conteúdo do pensamento humano.
O
Menológio, “Exemplo de Meditação sobre as razões da Fé”, traz quatro grandes
argumentos para demonstrar racionalmente a existência de Deus.
Afirma
que uma coisa é certamente maior (mais perfeita) se existe não apenas no
pensamento, como também na realidade.
Assim o “Ser do qual não é possível pensar nada maior” existe
obrigatariamente na realidade, pois se existisse apenas na inteligência
forçaria a recorrer a um outro ser existente não apenas no pensamento, mas
também na realidade e que seja maior (mais perfeito) do que o primeiro. Dessa
forma conclui que Deus é este Ser e que existe no pensamento e na realidade.
Podemos
dizer que a explicação das “provas” da existência de Deus de Santo Anselmo recorrem
ao conceito de participação, bem como da observação atenta da realidade na qual
se percebe as diferentes escalas de perfeição presentes nos entes. Em outras palavras, o fundamento da existência
das coisas (ser per aliud) está necessariamente na existência da Suprema
Natureza (ser per se), pois se assim não fosse o devir das coisas seria
contraditório.
O
primeiro argumento parte da percepção de que o conceito de “bondade” é
atribuído de um mesmo modo a diferentes realidades e para ele, isso só é possível
devido a existência de um Bem Uno, Idêntico em si, Superior, e Absoluto, em
virtude do qual todos os outros bens recebem a bondade por participação. A
mesma linha de raciocínio é seguida com os conceitos de “grandeza” (em sentido
qualitativo) e de “existência.”
O
quarto argumento, retomando os anteriores, parte dos diversos valores
atribuídos as diferentes coisas existentes, constatando que algumas tem mais
valor do que outras, assim tanto as que possuem mais quanto as que possuem
menos fazem referência a uma realidade Suprema que possui pleno Valor em si e
por si.
Podemos
concluir que os argumentos da prova da existência de Deus em Santo Anselmo
possuem três fundamentos: a) uma noção de Deus fornecida pela fé; b) a
convicção de que existir no pensamento já é verdadeiramente existir; c) a
existência lógica de que a existência da noção de Deus no pensamento exige que
se afirme sua existência também na realidade.
Demonstrada
a existência de Deus, o autor procura deduzir as consequências referentes aos
atributos do Ser Supremo. E as conclusões anteriores (Deus Supremo Bem e Ser
mais Grandioso) permitem concluir que a Ele também se deve atribuir todas as
perfeições, assim será a máxima Sabedoria, Verdade, Potência, Justiça e
Beatitude e tai atributos pertencem a Ele não como qualidades exteriores
agregadas à sua essencia e sim idênticas a ela, pois Deus não participa de nada
e é “por si mesmo” tudo aquilo que é. E tudo aquilo possui ser, só o possui na
medida em que derivam de Deus.