Santo Anselmo - Sobre a liberdade do arbítrio
>> segunda-feira, 29 de julho de 2013 –
Filo Medieval
O
livro é escrito em forma de diálogo entre dois personagens identificados como
Mestre (aquele que responde) e Discípulo (aquele que pergunta). Apresenta de
modo especial o tema da Liberdade do Arbítrio. Observamos estreita ligação com
o pensamento de Santo Agostinho e Boécio comentados nas aulas anteriores.
Podemos
considerar o primeiro capítulo como programático onde fica claro o objetivo do
santo que pode ser resumido nas seguintes questões: a) investigar o que é
liberdade. b) se sempre a possuímos. Anselmo busca expor uma definição de
liberdade de arbítrio a partir da qual o arbítrio e a própria vontade sejam
reconhecidos como livres.
O
santo negará uma definição de liberdade como alternativa entre o poder pecar (posse pecare) e o não poder pecar (posse non pecare), a reflexão segue a
seguinte linha de raciocínio. Se a liberdade fosse o poder da alternativa, ela
não seria um atributo de Deus e dos anjos, uma vez que estes não podem pecar. “Não penso que a liberdade do arbítrio seja a potência de pecar e de não
pecar. Com efeito, se fosse esta a definição dela, nem Deus nem os anjos, que
não podem pecar, teriam livre arbítrio, o que não se pode dizer.”[1]
Assim
o santo exporá uma visão de liberdade distintivamente negativa expressa na
definição da liberdade do arbítrio, que determina também a definição da
liberdade do arbítrio, e que é sobretudo nao sujeito à necessidade. “Pelo
livre arbítrio, pecou o anjo apóstata ou o primeiro homem, porque pecou pelo
seu arbítrio, que era de tal modo livre que por nenhuma outra coisa poderia ser
coagido a pecar. E, por isso, é justamente repreendido, porque, com a condição
de ter esta liberdade do seu arbítrio, pecou sem alguma coisa coagente, sem
alguma necessidade, mas espontaneamente pecou pelo seu arbítrio, que era livre;
mas não pela causa de ser livre, isto é, pelo poder pelo qual podia não pecar e
não servir o pecado, mas pelo poder que tinha de pecar, pelo qual não era
exortado para a liberdade de não pecar nem era coagido à servidão de pecar.”[2]
Mesmo tendo claro que o livre arbítrio de Deus
e dos anjos são distintos aos do homem, ele tenta encontrar uma definição que
tenha validade para todos. Assim apresenta a seguinte solução: Deus, os anjos e
os homens sao LIVRES, ou seja, estão sobre uma definição de liberdade, no
entanto isso não significa que são igualmente livres. no último capítulo da
obra, ele vai expor uma divisão da liberdade segundo a presença ou não da
retidão da vontade, o que é essencial para compreender seu pensamento, em
estreita linha com Santo Agostinho.
Assim
sendo, a vontade passa a ter papel central nesse processo, e a vontade mais
livre é aquela que tem o que convém, que é mais vantajoso e o que não pode ser
abandonado, diferentemente daquela que tem o mesmo bem, mas pode perdê-lo e ser
conduzida ao que é nocivo, podendo até mesmo se tornar escrava do pecado. O que
leva a concluir que o objetivo da liberdade do arbítrio é salvaguardar a
retidão da vontade, “Portanto,
uma vez que toda a liberdade é poder, aquela liberdade do arbítrio é o poder de
guardar a retidão da vontade pela própria retidão”[3]
Santo Anselmo considera o livre arbítrio dotado de
espontaneidade, em oposição a toda e qualquer necessidade ou coação, e nessa
perspectiva se pode afirmar que ação é livre e o homem e os anjos receberam
essa faculdade para afirmar as suas respectivas dignidades para querer aquilo que deveriam e seria
mais vantajoso querer e ainda mais, a liberdade foi dada em vista da
retidão da vontade e para conservá-la.
A partir disso podemos concluir que os elementos
essenciais da liberdade do arbítrio são: a) toda liberdade é poder. b) é dada
por Deus à criatura racional. c) para que seja conservada por ela mesma.
Portanto a liberdade do arbítrio é o poder conservar a retidão da vontade
através da própria retidão.