Santo Agostinho - O Livre Arbítrio
>> quinta-feira, 25 de julho de 2013 –
Filo Medieval
O livre arbítrio de Santo Agostinho
traz como pano de fundo o problema da liberdade humana e a origem do mal moral,
questões que o afligia desde a juventude, como se pode notar em Confissões.
Sabemos que encontrou tal resposta no cristianismo. Impelido por amor
apostólico não se contenta com isso e percebe a necessidade de demonstrar
racionalmente esta verdade para os seus amigos extraviados, seja pelo erro,
seja pela pura e impiedade.
Livre Arbítrio é a obra na qual o
filósofo aborda racionalmente tais questões, o livro II é o coração da Obra, nele
tenta provar três coisas através de um método ascensional: a) a existência da
Deus é evidente[1];
b) Deus é a fonte de todo Bem, e não pode ser autor do mal[2],
c) Deus é autor do livre arbítrio, que é um bem, pois dá ao homem a
possibilidade de aderir a Verdade[3].
Da criatura mais perfeita ele chega
ao Criador Perfeito. O ponto de partida é a constituição dos seres criados:
existir, viver e entender, o único ser que pode fazer tal investigação é o
homem, pois este possui essas três realidades e delas, a mais excelente é
entender, pois aquele que entende possui as outras duas.
O caminho ascensional do filósofo
fica evidente, no capítulo 7, pois parte do objeto dos sentidos exteriores (5
sentidos corporais), passa ao objeto dos sentidos interiores (razão) e
demonstra como se relacionam entre si. A partir disso demonstra como o sentido
interior é em si mesmo e como é juiz e guia dos sentidos exteriores. Demonstra
uma clara hierarquia do ser e afirma que se há alguma realidade acima da razão,
que seja independente dela, existente em si mesma e imutável, esta só pode ser
Deus.
Para chegar à existência desta
Verdade Universal Suprema (Deus), os números são apresentados como prova
decisiva de que há uma verdade imutável e independente da razão, e, como tal,
pode abrir acesso ao mundo inteligível e espiritual.
A eminência das propriedades da
Verdade se revela nas leis dos números. Sua transcendência se revela à razão, a
qual chega a conhecer suas propriedades, porém a Verdade é algo muito superior
que a própria razão humana. E através dessa demonstração o santo conduz à
existência de uma realidade tão sublime que só pode ser o próprio Deus.
A liberdade, criada por Deus, é o
caminho para felicidade do homem e consiste na posse dessa Verdade Suprema e
Absoluta. O livre arbítrio, desdobramento da liberdade, embora o permita abusar
da dela, escolhendo o mal, só pode ser um bem, pois provém de Deus, fonte de
todo bem e do qual não pode advir nenhum mal. Analogamente, da mesma forma que
o mau uso dos seres corporais não impedem que os corpos sejam um bem em si
mesmos, o livre arbítrio ainda que possa ser usado para o mal, permanece sendo
um bem.
Assim resolve o problema do mal
moral, que consiste numa inversão de bens, pois o homem deixa de escolher o Bem
Supremo por um bem inferior, o que santo Agostinho afirma ser uma aversão a
Deus para uma conversão à criatura.
Notei algumas características
essenciais no pensamento de Santo Agostinho evidentes nessa obra, uma certa
influência dos pitagóricos no que se refere a doutrina dos números[4],
bem como sua influência Platônica, no que se refere à teoria da iluminação[5],
ousaria dizer também influência aristotélica, pois quando fala dos atributos da
Verdade parece aludir aos transcendentais. Notei também como ao fazer teologia
não deixa de ser filósofo e ao fazer filosofia não deixa de ser teólogo, “crer
para entender, entender para crer.”[6]