Emmanuel Mounier - O Personalismo (I)
>> quinta-feira, 25 de julho de 2013 –
Filo Contemporânea
Aspectos biográficos.
Antes de mais
nada, convém situarmos o autor historicamente a fim de que possamos compreender
melhor a sua concepção filosófica, chamada por personalismo e que fez grandes
discípulos ao longo do século XX, entre eles Karol Wojtyla.
Emmanuel Mounier
nasceu na França em 1905 e lá morreu em 1950, tendo uma vida curta, podemos
afirmar que o seu legado filosófico permanece. Sua primeira obra importante é
também a sua tese doutoral sobre Charles Peguy, de quem recebeu grande
influência, sobretudo no que se refere a concepção antropológica, como veremos
a seguir. O autor recebeu também influência de pensadores como Maritain e
Marcel, além de ter sido colega de Sartre. Uma de suas características
curiosas, do ponto de vista histórico, é que optou por cultivar seu pensamento
filosófico fora do ambiente universitário. Entre outros aspectos importantes de
sua vida, podemos destacar que é o fundador da revista Espirit, que se torna grande instrumento de difusão da corrente
personalista, a qual Mounier, juntamente com sua esposa, pode ser considerado
propriamente como fundador. Outro detalhe importante que influência diretamente
seu desenvolvimento filosófico foi a morte da filha, que particularmente o fez
aprofundar sobre o sentido da dor. Eis suas principais obras: Révolution personnaliste et communautaire (1935), De la
propriété capitaliste à la propriété humaine (1936), Manifeste
au service du Personnalisme (1936), Introduction aux existentialismes (1946), Qu'est-ce
que le personnalisme? (1947) e por fim,
aquela que nos propomos a analisar neste resumo, Le personnalisme (1950).
Conteúdo da obra:
A obra foi
escrita já no final da vida de Mounier, e representa já a maturidade do seu
pensamento e podemos afirmar que apresenta uma visão antropológica do homem
muito em consonância com a da tradição cristã, tais como: visão realista e
metafísica do homem e do mundo, a pessoa humana é espiritual, livre a aberta ao
mistério e à transcendência. Podemos afirmar também com segurança que o autor
coloca a pessoa humana no centro da reflexão filosófica, porém não o fará na
perspectiva existencialista, como o fizera Kierkegaard, Heidgger e Sartre, uma
vez que analisa a pessoa humana com categorias filosóficas próprias, tais como,
a centralidade do coração, em sua dimensão afetiva essencial ao lado da
inteligência e da vontade, os valores morais e religiosos apresentam valor
primordial, em relação àqueles meramente cognoscitivos.
Como podemos
observar ao ler a obra, a pessoa humana somente se realiza enquanto tal na
relação interpessoal, essencialmente diálogo, dom e comunhão. O homem não é
analisado ingenuamente e nem mesmo numa concepção demasiadamente espiritualista[1], pois como o próprio autor
afirma, o homem é um ser imerso na natureza, é um ser encarnado, por isso a
obra apresenta uma visão específica sobre a corporeidade e sexualidade. “O Homem é um corpo, e ao mesmo título é
espírito: é totalmente corpo e totalmente espírito.”[2]
Mounier não foi
um autor de escritório, antes disso, sua concepção filosófica é fruto da sua
vida imersa na sociedade fruto de sua luta por transformar cultura e a
sociedade em que vivia. O que apresenta propriamente uma coerência fantástica
da sua vida com a sua filosofia, “Os meus
estados de ânimo e as minhas idéias são condicionadas ao clima, à geografia, do
ponto em que me encontro na superfície terrestre, dos traços hereditários, e
indo ainda mais longe, talvez por um bombardeio denso que vem dos raios
cósmicos.”[3]
Lendo a primeira
parte da obra podemos ainda afirmar que sua visão antropológica apresenta outra
característica essencial, o homem possui uma característica intrínseca
essencial: a liberdade, que o impele a agir de modo criativo, possuindo como
vocação a humanização do mundo. O que faz que seja incoerente e insuficiente
observá-lo a partir de um sistema fechado que tenha pretensão de ser
onicompreensivo, como fizeram, em minha opinião, diversos outros filósofos,
tais como Marx, Freud, Nietzche, Sartre para citar apenas alguns.
No próximo resumo
tentarei, aprofundando na visão de homem do autor, analisar outros aspectos que
me chamaram atenção na leitura da obra, tais como, dimensão ontológica da
pessoa humana, a dinamicidade da pessoa humana e importância particular da
vocação, incarnação e comunhão para a felicidade humana. E ainda a relação
entre sociedade e comunidade, a vocação própria do personalismo como corrente
filosófica e uma opinião pessoal sobre o autor.