II. 18. As dimensões da liberdade e os hábitos morais



I. AS DIMENSÕES DA LIBERDADE

       Terminado o estudo das ações voluntárias que formam a conduta humana, agora nos aplicaremos a considerar que a conduta livre é aquela que não está determinada por nenhuma necessidade exterior ou interior, constituindo, portanto, uma verdadeira expressão da auto-determinação da pessoa humana, pois a ética pressupõe a liberdade desde a diferenciação dos atos humanos dos atos do homem.
        Este capítulo é de suma importância, primeiro porque a liberdade é uma condição fundamental para a busca da felicidade como fim último e porque vem sendo objeto da reflexão filosófica desde a antiguidade e o seguirá sendo sempre. Suas múltiplas faces são difíceis de se abarcar em uma visão satisfatória.



1. A liberdade da coação

     A liberdade de coação é o aspecto imediatamente mais compreensível à razão a respeito da liberdade. Consiste no fato de que a conduta humana não se veja determinada nem impedida por nada do ponto de vista exterior.
     Esta forma de liberdade é limitada justa ou injustamente para todos aqueles que se vêem privados de dizer ou de fazer o que gostariam. Desse ponto de vista, o inimigo principal da liberdade é a violência em qualquer de suas modalidades, por isso a liberdade de coação é um tema importante para a reflexão da ética política.
     A filosofia política deve determinar, no plano normativo, quais são os limites através dos quais o indivíduo deve desejar ou fazer o que considera oportuno, sem interferências desnecessárias do Estado.
    Aqui poderíamos refletir, por exemplo, até que ponto é razoavelmente ético o Estado interferir no modo com o qual os pais devem corrigir seus filhos, como a recente lei que proíbe aos pais bater em seus filhos.


2. A liberdade da eleição ou liberdade psicológica


      A liberdade de eleição ou liberdade psicológica coincide com a liberdade de coação por que também é uma “liberdade para”. Mas aquela se diferencia desta, na realidade, sobre a que se refere este “para”, que já não é uma necessidade exterior e sim interior.
     Liberdade de eleição significa ausência de necessidade interior para tomar ou não tomar uma decisão, para tomar uma decisão ou outra. Se trata, portanto, da liberdade interior de querer, da possibilidade de propormos fins e eleger o modo de realizá-las.
     Assim, o sujeito decide, determina, e conduz-se a si mesmo.
    S. Tomás de Aquino estabelece a respeito da decisão livre uma distinção entre o plano de exercício e o plano da especificação, que é equiparável à já explicada distinção entre auto-determinação e voluntariedade.
    O plano de exercício se refere ao ser ou não ser da ação, no fundo, ao fato de que é o sujeito moral quem “se conduz” a si mesmo; o segundo ao “conduzir-se” até um objetivo ou outro.
   O plano do exercício depende do querer da pessoa (da vontade), a qual, na ordem da causalidade psicológica, não tem outra causa eficiente senão ela mesma. Se pressupõe, portanto, que a vontade possui em si uma tendência ao bem conhecida pela inteligência.



3. A liberdade como valor e tarefa moral

    Não nos referimos agora ao valor representado pela liberdade psicológica representada em si mesma e que deve por si mesma defendida com energia a quem queira limitá-la injustamente e sim ao valor e tarefa moral constituído pelo bom uso da liberdade.
    Se expressarmos da forma negativa, a liberdade como tarefa moral é a libertação da ignorância e dos impulsos desordenados, do pecado, da miséria moral. Constitui o aperfeiçoamento ético da liberdade, sua consolidação no bem, que é o fim da ética Filosófica ou Filosofia Moral..



    Num sentido mais absoluto este aperfeiçoamento consiste na aquisição dos hábitos morais ou virtude éticas, com as quais o homem passa a ter capacidade de fazer bom uso da liberdade nas mais variadas circunstâncias, pois como afirma Santo Agostinho “a virtude é o bom uso da liberdade”.
  A liberdade se afirma como negação da coação, das motivações necessariamente determinantes da ação e das paixões e pecados.


4. Liberdade e Amor

     O amor não é outra coisa que a afirmação livre do bem. Em termos gerais, o amor é o ato primordial da vontade livre, a primeira impressão que um fim (um bem amável em si e por si) provoca no espírito, despertando o desejo e muitas vezes também o sentimento e neles têm origem os demais atos da vontade: intenção, eleição, gozo etc.



     Existem outras formas ou graus de amor no sentido mais básico o amor é amor de complacência (amor complacentiae) e consiste em deixar-se atrair pelo que se apresenta como bom. É consentir à atração, o grau seguinte do amor é o amor, chamados pelos filósofos medievais, de amor de concupiscência, esse é aquele que se traduz em desejo de bem não possuído. A concupiscência não e ama e sim se utiliza do bem para lhe dar uma sensação subjetiva de satisfação.



     Acima do amor de concupiscência está o amor de benevolência, que pode também ser chamado de amor de amizade. Ainda que através dela se possa amar a Pátria, a justiça etc, o amor de benevolência só desenvolve plenamente suas potencias como amor entre pessoas.



    O amor de benevolência é então a afirmação da pessoa, afirmação de seu valor, querer seu bem. A forma mais alta desse grau de amor consiste na entrega de si, na completa doação da própria pessoa, o que não é possível no plano ontológico (duas pessoas não podem fundir-se em uma) então se faz realidade no plano ético do amor. A entrega de si é a manifestação mais excelente da liberdade: o dar-se, o auto-trancender-se constituem o “para quê” da liberdade.



     Enquanto a pessoa humana criada a imagem e semelhança de Deus que é Amor (mas não desejo) o amor que consiste em dar-se representa para ela sua vocação específica; enquanto seja finita, tal amor supõe para ela seu máximo enriquecimento ético.



     Estas reflexões nos permitem vislumbrar que a ordenação moral da liberdade que a ordenação moral da liberdade não pode ser entendida em fim último como mera adesão de valores abstratos ou a ideais impessoais.



    A moral tem, portanto, suas raízes mais profundas no ser da pessoa, que consiste em “ser com”.
    Na prática, os graus do amor representam o itinerário da maturidade e elevação moral da pessoa, cujos extremos são por baixo a concupiscência e por cima a entrega de si.

5. Liberdade e o fim ultimo



    O fim ultimo é o “para quê” da liberdade, pelo qual ela assumir pessoalmente o fim ultimo é o ato mais profundo da liberdade e do amor, o ato que define a identidade da pessoa como sujeito moral.
    Cada fim ultimo concreto que o homem pode assumir está ligado a uma forma de ser, a um estado de vida.
    Posto que o fim ultimo não se elege em função de outro bem, senão pelo que se quer em si mesmo, Tomás de Aquino pensa que aquilo que uma pessoa concebe de um modo ou de outro a respeito de sua felicidade “obedece a uma disposição especial da natureza. Por isso diz Aristóteles que, como cada qual é, assim lhe aparece o seu fim



     Santo Tomás quer dizer em suma, que os hábitos morais da pessoa desempenham um papel de primeira ordem na hora de eleger um projeto totalizante de vida. O que manifesta uma dimensão importantíssima da conexão entre felicidade e virtude.

Anônimo –   – (10 de outubro de 2010 às 18:24)  

Pe Gilberto a sua benção.

Fui na missa de 65 anos de casamento dos meus Tios Ilidio e Zulmira e adorei por este motivo gostaria de saber os horários de missa da Capela Nossa Senhora da Caridade.
Agradeço e peço que envie resposta atraves do Blog ou Silei.melo@gmail.com
Agradeço desde já.
Fique na Paz de Deus

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