Dogmas Marianos
>> segunda-feira, 7 de julho de 2014 –
PALESTRAS
INTRODUÇÃO
Toda a Mariologia parte de um
princípio fundamental, que Maria é Mãe de Deus feito homem. É dessa proposição
que vem todos os demais títulos de Nossa Senhora: a sua Imaculada Conceição, a
Assunção corpórea e também sua virgindade perpétua.
Antes de
aprofundar em cada um destes dogmas da nossa fé é necessário ter presente que eles
salvam a fé do racionalismo e que devem ser entendidos na analogia da fé, sem
deixar de lado as demais verdades cristãs, sobretudo que Jesus Nosso Senhor é
verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
1.
VIRGINDADE
PERPÉTUA DE MARIA
Consiste em afirmar que Maria é aeiparthénos, sempre virgem (no
sentido físico). Essa verdade foi professada pela Igreja em 07/VIII/ 1555 pelo
papa Paulo IV: “A bem-aventurada Virgem Maria foi verdadeira Mãe de Deus, e
guardou sempre íntegra a virgindade, antes do parto, no parto e constantemente
depois do parto” (DS nº 1880[993]).
1.1
Na Escritura
Os Evangelhos sempre afirmam que Maria concebeu Jesus sem a intervenção
de José. Tenha-se em vista, por exemplo, o texto de Mt 1,18-20.
“Deu-se
assim a concepção de Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes,
porém, da habitarem juntos, achou-se grávida pelo poder do Espírito Santo”.
Além dessa passagem encontram-se outra inúmeras, como se vê também
claramente em Lc 1,26 e em outras que aparece implícita ou explicitamente (Mt
1,1-17;Lc 1,34 etc...)
No antigo testamento pode-se notar o famoso texto de Is 7,14, a apalavra
hebraica ‘almah significa apenas jovem na flor de seus anos, sem alusão direta
à virgindade, porém o mesmo termo é usado na Bíblia para designar uma donzela virgem
(cf. Gn 24,43; Ex 2,8 ; Sl 68,26).
Além disso, S. Mateus citou a profecia de Isaias em sua forma grega
dando-lhe interpretação cristã: a parthénos ou virgem é Maria e seu
Filho Emanuel é o Cristo Jesus. Assim a própria Escritura explica a Escritura.
Nesse texto também deve-se aplicar o “sensus plenior”.
1.2
Na Tradição e no Magistério da Igreja
Entre tantos textos pode-se citar o de S. Inácio de Antioquia (+110) “o
Filho de Deus...verdadeiramente nasceu de uma virgem” (Aos Esmirnenses 1,1)
O magistério também sempre ensinou o mesmo como se vê, por exemplo, no
credo niceno-constantinopolitano
“Encarnou-se de Maria Virgem, por obra do Espírito Santo”
Como antes foi citado, também o papa Paulo IV em 1555 professou que
Maria é virgem, antes, durante e constantemente depois do parto.
1.3
Significado antropológico e
escatológico da virgindade de Maria
Além de salvaguardar o mistério do Deus Homem, a virgindade perpétua de
Maria também revela o valor da virgindade da alma e do corpo para Deus,
superior inclusive à instituição do matrimônio.
A virgindade perpétua faz de Maria o símbolo vivo da ordem nova
instaurada pelo Espírito Santo, o símbolo excelso do Reino de Deus e da
existência escatológica, “pois na ressurreição, nem eles tomarão mulher, nem
elas marido, serão como anjos no céu”
2.
MATERNIDADE DIVINA
2.1 Na Sagrada Escritura
A fonte para se afirmar que Maria é mãe de Deus no Antigo Testamento
podem ser encontradas de forma velada no estudo das mulheres que antecedem
Maria e a ela fazem referência, começando por Eva “mãe de todos os viventes”[2], e
passando por Judite, Débora, Rute, Éster e muitas outras, Finalmente vários
profetas falam simbolicamente de uma “Filha de Sião” que representa o mistério
do povo de Israel nos três aspectos, Esposa, Mãe e Virgem, que se realizarão
plenamente no mistério de Maria.
No Novo testamento a maternidade divina de Maria é afirmada implicitamente
toda vez que dela fala como “Mãe de Jesus”, o qual declarou sem sombra de
dúvidas como Deus.
O texto mais primitivo é o de Gálatas 4,4-5, o qual foi estudado
neste curso em aula expositiva, no texto o apóstolo menciona Maria sem a
nomear. De Jesus diz que foi “Nascido de mulher”. Marcos chama Jesus
“Filho de Maria” e “Filho de Deus”[3].
Em Mateus e Lucas emprega-se a palavra Mãe tanto no relato da concepção
como no Nascimento[4]; na
Anuncuação a Maria o Anjo lhe diz: “conceberás e darás à luz um filho,
a Quem porás o nome de Jesus”[5]
Além de todas esses indícios implícitos, o Novo Testamento da evidências
explícitas no famoso texto de Lucas 1,31: “o Santo que nascerá de ti será
chamado Filho de Deus”, e também o de Mateus que afirma que o filho de
Maria será chamado de “Emmanuel...Deus conosco”[6].
2.2 Na Tradição
Julga-se que o título Theotókos, Mãe de Deus, aparece pela
primeira vez na literatura Cristã nos escritos de Orígenes (+250) e foi
solenemente proclamado pelo Concílio de Éfeso (431).
2.3 Significado da Maternidade Divina
de Maria
Na lógica divina era necessário que no coração de Maria houvesse um
afeto que ultrapassasse o âmbito natural, em virtude da sua missão que também
ultrapassava a de qualquer outra pessoa, dar a luz ao Filho de Deus, Salvador
da humanidade.
Daí que Deus a cumulou do mais alto grau da Graça, a fim de que tivesse
com o seu Filho os sentimentos próprios de uma mãe de Deus para um Filho de
Deus.
Do mistério da plenitude da Graça em Maria têm-se salientado, entre
outros, três aspectos:
b)
O que S. Tomás chama refluentia da graça da alma sobre a
materialidade do corpo de Maria, que sempre de algum modo misterioso para nós –
“introduzida” na vida íntima da Trindade.
c)
Como conseqüência do anterior, Maria é, de certo modo, fonte de Graça
para os homens (em união, subordinada, por participação, de Cristo).
3.
IMACULADA CONCEIÇÃO
Por ser Mãe
de Deus, Maria recebeu de Deus graças muito singulares, entre elas a Imaculada
Conceição. Para ser digna Mãe de Jesus, Ela foi isenta de todo pecado ou
imaculada.
3.1 Solução das dificuldades teológicas
Uma das
dificuldades levantada por alguns teólogos antes da declaração dogmática da
Imaculada Conceição era a da universalidade da redenção operada por
Cristo. Como explicar a que Maria não tinha pecado original e que tinha
necessidade de ser redimida como todos os homens?
A resposta
do magistério é clara: Maria não é uma criatura isenta de redenção, pelo
contrário: é a primeira redimida por Cristo e o foi de um modo eminente em
atenção aos méritos de Jesus Cristo Salvador do Gênero Humano.[9]
E daí lhe
vem toda esta resplandecente santidade completamente singular com que foi
“enriquecida desde o primeiro instante de sua concepção”[10].
A
dificuldade acerca de como podia uma pessoa ser redimida sem ter contraído, ao
menos por um instante, o pecado original, responde-se com a distinção entre
“redenção liberativa” e “redenção preservativa”. A primeira é a que se aplica a
todos nós com a “lavagem da regeneração batismal”. E esta última foi a que
aconteceu em Maria ainda antes que pudesse incorrer em pecado.
3.2 Na Sagrada Escritura
Depois da
queda de Adão, Deus fala à serpente: “porei inimizade entre ti e a mulher e
entre a tua posteridade e a posteridade dela...”[11]Não
poucos Santos Padres e Doutores aplicam esse texto a Virgem Maria.
Assim como
da primeira Eva partiu a ruína do gênero humano, da nova surge a redenção,
Cristo.
Os Padres,
para isto, baseiam-se nas palavras do Anjo Gabriel que diz na Anunciação “em
nome e por ordem de Deus” em tão singular e solene saudação, nunca ouvida até
então: cheia de graça[12].
Contudo
pode-se afirmar que na Escritura não há algum texto que fale explicitamente da
Imaculada Conceição de Maria, o que não significa que isso não é verdade
revelada. Sabe-se que foi crescendo aos poucos na Igreja a compreensão mais
profundas dos dados implícitos na Escritura, é o que se chama “desdobramento
homogêneo do dogma”.
3.3
Significado da Imaculada Conceição
Quando a
Igreja define um dogma não obedece apenas a um capricho dogmatista, muito menos
por uma razão meramente estética, Apesar de autoridade para tanto, a Igreja
sempre fundamenta os dogmas na Sagrada Escritura, na Tradição apostólica, além
disso não o faz sem levar em conta a piedade de seus fiéis, ou seja, a “sensus
fidei”.
As razões
mais claras que a Igreja encontrou para explicar o desígnio de Deus sobre o
mistério da Imaculada Conceição são os seguintes:
1)
A
Maternidade divina, Maria foi “dotada por Deus com dons à medida duma missão
tão importante”[13]
pois essa vocação, a qual não parece existir outra à altura, exige plenitude de
graça divina e imunidade de qualquer pecado na alma, visto que trás consigo a
maior dignidade e santidade, depois da de Cristo.
2)
O amor de Deus a sua mãe, convinha, Deus podia faze-lo e por
isso fez[14].
4. ASSUNÇÃO
A assunção
corporal de Maria é uma graça estritamente associada à Imaculada Conceição, da
qual decorre logicamente.
4.1 Na Sagrada Escritura
Pio XII quis
fundamentar a definição dogmática deste dogma sobre a Sagrada Escritura lida na
Tradição dos Padres e teólogos da Igreja e o fez a partir das seguintes
passagens:
- Gn 3,15, e
situou Maria como Nova Eva, que acompanhou o Novo Adão em sua vitória sobre
pecado e a morte. Em conseqüência disso também compartilhou do triunfo de
Cristo sobre a morte, escapando da deterioração do sepulcro.
-
Lc 1,28:
Maria é cheia de graça. Assim, a glorificação corporal de Maria, superando o
poder da morte e é o coroamento da graça apregoada pelo anjo Gabriel.
-
Ap 12,1: A
mulher revestida de sol representa o povo de Deus que gera o Messias e que tem
a promessa da glória eterna; nesse povo Maria brilha como figura primacial que
dá a luz o Messias e é gloriosa por Graça de Deus.
-
Entre outras
como Ex 20,12; Lv 19,13 além de muitos textos litúrgicos.
4.2 No Magistério
A
promulgação do dogma data de 1 de Novembro de 1950 por Pio XII através das
seguintes palavras: “Pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma
divinamente revelado: que a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria,
cumprindo o decurso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória
celeste”[15].
4.3 Significado da Assunção de Maria
Maria
exaltada na glória celeste é protótipo e representa desde já aquilo que tocará
a cada cristão na consumação da história, desperta e aviva em cada filho a
esperança, põe em relevo nítido o que é seguir o Cristo passo a passo na Terra
até provar o cálice da morte com Ele.
A Assunção
recorda também o poder de intercessão de Maria e convida cada fiel a um culto
de petição.
Além disso a
Imaculada Conceição de Nossa Senhora é o ponto de convergência de várias
verdades de fé. É a reafirmação da gratuidade da salvação dada por Deus e
percorre de modo peculiar cada um dos artigos do credo católico.
[1] Cf. Mt
19,12.
[2] Cf. Gn
3,15.
[3] Cf. Mc
1,1; 12,6-8; 13, 22; 15,19.
[4] Cf. Mt 1
e Lc 2.
[5] Lc 1,31.
[6] Cf. Mt
1, 23.
[7] Cf. LG
56;
[8] Cf. LG
53.
[9] InD, DS 2803; LG 53.
[10] LG
53,56.
[11] Gn 3,15.
[12] Lc
1,28.
[13] LG 56.
[14] Cf.
Duns Escoto, In III Sententiarum, dist. III, q 1.
[15] MS, DS
3900-3904.