O pecado
>> sábado, 15 de março de 2014 –
PALESTRAS
NOÇÃO
DE PECADO NA BÍBLIA E NA TRADIÇÃO
O termo pecado é usado para indicar
o mal moral, como o desamor e desobediência da criatura livre a Deus. São
inúmeras as pessagens que atestam isso: Gn 18,20; Num, 32,23 ; 1Cor6,18 ; Mt
12,31 e outras.
A Bíblia usa também outros termos como ofensa a Deus (Num
17,14) desprezo a Deus (Lv, 26,15) e outros. O NT reafirma explicitamente o
termo pecado, como em Mc 7,20-23 e outras.Pecado é um ato humano contrário à lei divina, à ordem do ser
e da graça. Portanto deve atender a 2 critérios:
- ser ato humano
- ser contrário à lei de Deus.
“Averso a Deo et conversio ad
criaturas” (averso a Deus e converso às cristuras)
Ordinariamente ninguém peca por afã de
transgredir a lei de Deus, mas por amar um bem fora da ordem dessa lei.
O pecado é uma ofensa a Deus, por isso
é o único mal absoluto e está na orgem de todos os outros males. Assim como
aprofundar no conhecimento de Deus ajuda o homem a O amar, afundar na maldade
do pecado ajuda o homem a se corromper com toda força devida.
2.1 Pecado Mortal (grave ) e pecado venial (leve),
O pecado é mortal quando a vontade se
afasta da lei de Deus em matéria grave e o venial é quando a transgressão não
tem essa gravidade, seja por imperfeição do ato, seja por caráter leve da
matéria.
PECADO MORTAL E PECADO VENIAL[1]
“O pecado mortal
destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus,
afasta o homem de Deus, que é seu último fim e sua bem-aventurança, preferindo
um bem inferior. O pecado venial deixa subsistir a caridade, ainda que a ofenda
e a fira”[2]
A diferença fundamental
entre um e outro é que o mortal priva da vida da graça e os veniais não.[3]
Quando a alma se desordena
pelo pecado, chegando à aversão de seu último fim, que é Deus, a Quem se une
por caridade, então o pecado é mortal. No entanto, a aversão não é querida
enquanto tal e sim enquanto procede de uma conversão gravemente desordenada às
criaturas; o pecador prefere um bem criado, mesmo que se afaste do Criador. ( cf.
Rm 1,23)
Por isso, sempre que um
ato gravemente desordenado por seu objeto seja livremente querido,
existe uma culpa mortal.
3.1 Desigual
gravidade dos pecados mortais
O fato de que todo pecado
mortal cause a morte espiritual da alma, não significa que todos tenham igual
gravidade. A crucifixão de Cristo, por ex. não teve a mesma gravidade em
Pilatos e nos príncipes dos judeus; “os que me entregaram a ti cometeram
maior pecado” (Jo, 19,11)
A
primeira regra para discernir a gravidade do pecados mortais é grandeza do
bem ao qual se opõe, por isso os mais graves são os que vão diretamente
contra a Caridade.
Aos
pecados que vão contra o próximo tanto maior será a gravidade quanto mais lhe
privar de um bem maior, por.ex. o homicídio é pior que a calunia, pois a vida
vale mais que a fama.
A
segunda regra é analisar a intensidade com que a vontade quer o pecado,
por isso são piores os pecados por malícia, do que os cometidos por fraqueza.
A terceira
regra é analisar as circunstâncias que como vimos em bimestres
anteriores podem atenuar ou agravar um pecado.
3.2 Especial
gravidade de alguns pecados
Alguns
pecados mortais apresentam uma gravidade especial por sua malícia intrínseca ou
porque são raiz de outros pecados.
a) Pecados contra o Espírito Santo. Estão em 1º lugar, pois implicam um
desprezo formal do auxílio divino são eles: presunção, deseperação de
salvar-se, a recusa ante a Verdade conhecida, a inveja da graça
que Deus concede a outros, a obstinação no estado de pecado e aimpenitência
final. São mortais, não porque sejam irremissíveis, pois Deus tudo por
perdoar, mas porque colocam grandes obstáculos à conversão.
b) pecados que bradam o céu. Concretamente são: homicídio (aborto e
matança de inocentes inclusive), homossexualidade (Gn19), injustiça com os fracos
e desamparados, defraudação de salário e outros. (Cf. 1 Cor,
6,9-10; Mt 18,8-9; 25,41ssetc)
c) Pecados capitais. São particularmente graves, porque
induzem a muitos outros. São eles: (espirituais) soberba, inveja, avareza, ira,
preguiça; (carnais) luxúria e gula.
4. O PECADO SOCIAL
A expressão
“pecado social” é relativamente freqüente e surgiu principalmente a partir do
século XVIII como fruto da novidade das ciências sociais. A Igreja sustém que
existem pecados sociais, mas que este termo exige algumas precisões ou corre-se
o risco de banalizá-lo ou mesmo contrapô-lo à concepção de pecado pessoal.
A
exortação apostólica Reconciliação e penitencia no número 16 é o documento mais
importante a respeito desse tema. Afirma que “o pecado, em sentido verdadeiro
e próprio é sempre um ato da pessoa, porque é um ato livre da pessoa
individual(...) “ [4]como
já foi visto no anteriormente, quando foi tratado sobre o pecado e suas
condições para que realmente seja cometido. (matéria grave, plena consciência e
deliberação[5]),
portanto o pecado nunca pode ser atribuído somente “(...) a um grupo ou a
uma comunidade”[6]
A Igreja
afirma que se pode falar de pecado social em três aspectos:
1º) Considerando que todo pecado traz
repercussões ou conseqüências sociais,
note-se que o termo social é muito distinto do que se pode constatar
empiricamente. Na verdade, isto é nada mais nada menos que a comunhão dos
santos, que professamos no Credo.
“Falar de pecado social quer dizer,
antes de tudo, reconhecer que em virtude de uma solidariedade humana tão
misteriosa como real e concreta, o pecado de cada um repercute de certo modo
nos demais. (...) todo pecado repercute com maior ou menor intensidade, com
maior ou menor dano, em todo conjunto eclesial e em toda família humana. Segundo
essa primeira acepção se pode atribuir a cada pecado o caráter de pecado
social”
“(...) Não existe pecado algum, ainda
que mais intimo e secreto, o mais estritamente individual, que afete
exclusivamente a aquele que o comete”[7]
2º) Existem certos
pecados que constituem uma ação direta contra o próximo, contra a justiça,
contra as relações interpessoais, tanto da pessoa para com a comunidade, quanto
da comunidade para com a pessoa, sobre esse aspecto nos diz a Santa Igreja:
“Alguns pecados constituem uma
agressão direta contra o próximo e contra o irmão. São ofensa a Deus, porque
ofendem o próximo. A estes pecados se pode dar o nome de sociais”[8]
3º) Pecados que
dizem respeito às relações entre as distintas comunidades humanas (Mal
social), sobre isto diz a Igreja
“A Igreja quando fala de situações de
pecado, ou denuncia como pecados sociais determinadas situações ou
comportamentos coletivos de grupos sociais mais ou menos amplos ou até de
Nações e blocos de nações, sabe e proclama que estes casos de pecado social são
o fruto, a cumulação e a concentração de muitos pecados pessoais”[9]
Percebe-se que a
doutrina do pecado social está muito bem definida pela Igreja, contudo é arma
do inimigo confundir com ambigüidades e muitos, ainda que bem intencionados,
parecem cair em tal erro, quando falando de pecado social, parecem contrapô-lo
ao sentido do pecado pessoal quando, na verdade, um é fruto inevitável do
outro.
Não é legitimo
aceitar um significado de pecado social, que oponha o pecado social ao pecado
pessoal.
“Segundo esse significado que deriva
de ideologias e sistemas não-cristãos, praticamente todo pecado seria social,
no sentido de ser imputável não tanto à consciência moral de uma pessoa e sim a
uma entidade vaga e uma coletividade anônima, que poderia ser a situação, o
sistema, a sociedade, as estruturas, a instituição.”
Esse erro é
cometido quando se busca interpretar o evangelho apenas de um modo político,
buscando-se uma compreensão do mal em chave de estruturas.[10]
Nesse sentido o pecado social seria um pecado anônimo, o que é absurdo de
aceitar.
O grande João Paulo
II falava sim de pecados de estrutura, mas num outro sentido muito mais
profundo, mas como se sabe é arma do inimigo de Jesus tentar confundir, pois é
“pai da mentira”
O pecado social deve
ser entendido por uma acumulação e concentração de muitos pecados pessoais ou
as conseqüências externas ou sociais dos mesmo pecados pessoais que chegam a
originar o chamado “pecado de estruturas” ou ainda “estruturas de pecado”[11]
Essas estruturas de
pecado só podem ser vencidas, num primeiro momento, a partir da conversão
pessoal e depois é necessário que essa conversão pessoal esteja acompanhada de
gestos políticos, sociais, econômicos e culturais verdadeiramente decididos e
eficazes.
Grande parte da perda
do sentido pessoal esteja no fato de que o homem já não seja mais visto como
uma pessoa singular, ou seja, única e com valor transcendente.
Assim Russerl
ridiculariza a importância que os crentes dão à lei natural e afirma que o ser
humano não é outra coisa que “um pequeno parasita de um planeta insignificante”.[12]
Hume adota uma atitude parecida para negar a
importância e qualquer tipo de malícia no suicídio “a vida de um homem
não tem não tem mais importância para o universo do que a de uma ostra”.[13]
No entanto a este respeito já dizia João Paulo
II “Aprenda a chamar por pecado o pecado e a não chamá-lo de libertação e
progresso, ainda que toda moda e propaganda forem opostas”.
[1] Cf. SANTO TOMÄS, Summa Theol.,
I-II, qq 88 y 89; in II sent., q.41, a 2; Quaest. Disp. De malo, q, 7
[2]
Catecismo da Igreja Católica, 1855
[3] cf.
SANTO TOMÄS, In IOB expositio, c. XLI, lect. 2
[4]
Reconciliatio et paenitentia, N. 16
[5] Catcismo
da Igreja Católica, 1857
[6]
Reconciliatio et paenitentia, N. 16
[7] ibidem
[8]
Reconciliatio et paenitentia, N 16
[9] ibidem
[10] Cf. M.
VIDAL, Moral de Atitudes, p. 574
[11] JOÃO
PAULO II, Enc. Sollicitudo rei socialis – 30/12/1987 – N 36
[12] B. HUSSERL, Why I am Not a
Christian, New York 1957, p. 53
[13] D. HUME, On Suicide, ethical
choice, New York, 1970