Husserl - A Filosofia como ciência rigorosa (II)



     A segunda parte da obra, apresenta à crítica husserlniana a Filosofia Historicista que, segundo ele, trata da via empírica do espírito, colocando-a em maneira absoluta sem, no entanto, naturalizá-la, o que para ele faz com que surja um certo relativismo que revela sua estreita relação com o psicologismo naturalístico.
Para o autor, o desenvolvimento historicista da filosofia conduz ao extremo subjetivismo cético, pois tal postura faria com que as ideias verdadeiras, teoria e ciência percam a suas respectivas validades absolutas e isso ocorre porque tal método faz com que surja uma tensão entre “il valere fluente” e a validade objetiva, entre a ciência como fenômeno cultural e a ciência  como um sistema de teorias válidas.[1]
Em suma, a crítica é que uma filosofia desenvolvida na perspectiva historicista não pode acrescentar nada relevante tanto contra a possibilidade de uma validade absoluta em geral, como também em particular contra a possibilidade de uma metafísica absoluta, ou seja, científica.
Observamos que a mente matemática de Husserl o faz aspirar um método verdadeiramente eficaz à filosofia, incomoda-o particularmente a falta de um método que a torne universalmente válida, daí sua tentativa de contribuir nesse objetivo, através do desenvolvimento da filosofia numa perspectiva fenomenológica.
Husserl se incomoda com o fato de a filosofia ser fundamentada apenas na perspectiva de situações históricas relativas e mutáveis, pois isso faz que em outro contexto histórico o mesmo argumento seja contraditório em si e por si, o que não acontece, por exemplo, com a matemática, porque esta ciência possui seus fundamentos em si mesma, assim 2x2 será sempre 4 e não 5. Da mesma forma os fundamentos da lógica se encontram na lógica e assim por diante, logo a filosofia não pode ter seus fundamentos mais essenciais simplesmente em uma perspectiva historicista, ainda que uma visão ampla da história da filosofia seja sempre útil e importante.
A filosofia deve buscar e encontrar a essência das coisas e como foi demonstrado somente as perspectivas naturalística e historicista não atendem a esta necessidade, daí que “é somente e unicamente a doutrina fenomenológica de essência que pode fundar uma filosofia do espírito.[2]
Num segundo momento, a obra procura apresentar o sentido e legitimidade da filosofia da Weltanschauung para contrapô-la à filosofia como ciência rigorosa. Afirma que o sentido e legitimidade da filosofia da Weltanschauung é mancante, uma vez que é filha do ceticismo historicista e, por isso, padece das mesmas contradições de todo ceticismo em senso absoluto. Esta forma de filosofia pressupõe, junto com as ciências particulares, fundamentos universalmente válidos que, no entanto, não conseguem alcançar por não chegarem propriamente à essência da consciência e do espírito tendo, porém, o mérito de confirmar a intrínseca aspiração filosófica de Sabedoria e nesse sentido é um verdadeiro argumento válido em favor dessa aspiração sapiencial.
Uma das metas do método fenomenológico da filosofia de Husserl, e talvez a única ou principal, é justamente evidenciar que a filosofia, enquanto ciência teorética, não pode abandonar a pretensa de ser uma ciência de rigor, consequentemente opondo-se, a uma mera aspiração de sabedoria, como o faz a filosofia de Weltanschauug. A fenomenologia procurará não apenas propor os fundamentos da reflexão como também chegar à essência enquanto tal.[3]
Husserl termina sua exposição afirmando que necessitamos certamente da história, porém não podemos perdermo-nos nela, como faz o filósofo historicista, na análise meramente das conexões em que são desenvolvidas as grandes teorias filosóficas e sim necessitamos dessas filosofias por elas mesmas, do estímulo que provém do próprio conteúdo espiritual, penetrando nosso olhar e reflexão na alma das palavras e ideias que essas filosofias  nos apresentam, constituindo assim, uma vida filosófica.




[1]  Cfr. HUSSERL, Edmund. La Filosofia come scienza rigorosa. Ed. Laterza. Bari. 2010. Pág. 75.
[2]  Ibidem. Pág. 81..
[3]  Cfr. ibidem. Pág. 99.
               

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