I Domingo da quaresma
>> domingo, 17 de fevereiro de 2013 –
HOMILIAS
Caríssimos irmãos e irmãs,
celebramos hoje o primeiro Domingo da Quaresma, tempo de oração mais intensa,
de penitência generosa por amor a Deus e aos mais necessitados. A liturgia nos
propõe a meditação das tentações de Jesus, tentações diversas, segundo a astúcia
do diabo e da sua capciosa ironia.
Num primeiro momento nos
colocamos a questão fundamental se Jesus poderia ou não pecar e a resposta, que
nos parece um tanto quanto óbvia, porém não menos verdadeira é de que ele não
poderia jamais pecar. Então, por que o diabo o tentou?
A interpretação dada por muitos
exegetas, e da qual eu também partilho, é que até este momento o inimigo de
Deus não havia plena certeza de que aquele “homem” era o Filho de Deus
encarnado e o objetivo de suas “ofertas” era justamente saber, quem era aquele
homem capaz de ficar quarenta dias e quarenta noites se alimentando apenas da
oração...
A partir dai, vemos o seu jogo
fugaz, aquilo que na gíria popular dizemos “jogar verde pra colher maduro”,
jogo bem característico de satanás e dos seus soldadinhos neste mundo, pois têm
verdadeiro horror da VERDADE, que clarifica a podridão, o orgulho e falsidade
de seus projetos, palavras e obras.
As tentações propostas a Jesus são,
em minha visão, de três espécies: do prazer, do poder e do saber. Oferecer a
oportunidade de transformar em pão uma pedra àquele que é o Pão da Vida,
oferecer o governo do mundo àquele que é o Senhor e Juiz da história, e de
saber a verdade sobre a capacidade de Deus Pai àquele que é o Filho Unigênito
pelo qual tudo foi criado. Poderia nos parecer um plano demasiado bobo àquele
que é sempre astucioso em suas maldades, porém, recordemos, que ele não possui
a ciência dos planos eternos de Deus e queria ele mesmo o prazer, o poder e o
saber.
Jesus, porém, não é tentado pelo
prazer para decepção das correntes freudianas modernas, não possui a vontade de
poder exaltada por Nietzche, nem mesmo a vontade de saber anunciada por Michel
de Foucault, por quê? Porque nenhum de seus planos são frustrados!
Caríssimos, a cena das tentações
de Jesus colocam em evidência a nossa luta interior pela liberdade, liberdade
esta tanta vestes tolhida, cercada, manipulada pelos jogos sinistros e sujos do
inimigo e de seus soldadinhos neste mundo. Porém, nos recorda Santo Agostinho,
que na vitória de Jesus sobre a tentação, nós também somos vencedores, “De certo, a nossa vida nesta peregrinação
terrena não pode ser ausente de provas e o nosso progresso se cumpre através da
tentação. Nenhuma pessoa pode conhecer-se a si mesma, se não é tentada, nem
pode ser coroada sem ter vencido, nem pode vencer sem haver lutado; mas a luta
supõe um inimigo, uma prova. Portanto se encontra em angústia aquele que grita
dos confins da terra, mas não é jamais abandonado.”
Caríssimos, as vezes temos a
impressão da derrota, porque encontramos com nossos fracassos pessoais, com
nossos limites humanos e tudo isso somado à culpa, que se nos joga na cara o
acusador e inimigo de Deus, pode nos fazer por um momento desacreditar do poder
da graça, porém, não nos esqueçamos, isto é somente mais uma tentação e em
Cristo somos mais que vencedores. A Deus basta nosso arrependimento, nossa
entrega generosa, nosso empenho cotidiano e sobretudo, nossa união aos seus
méritos redentores da vitória da cruz.
Por isso podemos permanecer
tranquilos, nosso Advogado é o Espirito Santo, o Paráclito, defensor e
consolador, não precisamos mais consumar nossas forcas em provar nossa retidão
e inocência, não precisamos fazer como os semeadores impudicos do ódio, ou
seja, não precisamos prometer nada, inventar coisas grandiosas e vãs, vomitar o
orgulho, a magoa e a inveja nos amigos de Deus, pois como bem dizia um
sacerdote muito santo “Pior do que não
fazer a vontade de Deus, é impedir que ela se cumpra na vida de outras pessoas”,
não sejamos soldados deste inescrupuloso e derrotado exército. O convite de
Jesus é simples, singelo e amoroso.
Não cedamos às tentações da
vontade do prazer, do poder e do saber, basta dirigir ao Senhor a súplica
humilde e confiante do salmista “Escuta,
oh Deus, o meu grito, esteja atento a minha oração; dos confins da terra eu te
invoco” (cf. Sl 60).
Temos a certeza da nossa vitória
sobre todo e qualquer mal, na vitória de Jesus sobre as tentações e sobre a
consequência mais absoluta do mal, a morte.
Jesus caiu e se levantou no
caminho do calvário para que nós nos levantássemos uma vez e sempre. Não
tenhamos medo, Deus esta conosco. A Virgem Maria é por nós e o céu inteiro
intercede por nos.