I. 2. Ética como ordenamento da conduta


1. Ação humana e conduta
    O sujeito do que é moral e do que é imoral é a vontade livre. Portanto somente os atos da vontade e as outras faculdades humanas (pensamentos, recordações etc) enquanto estão submetidos a escolha livre do homem ou ao menos consentidos pela vontade. Pois somente esses atos podem ser qualificados como bons ou maus.
    Ficam fora do estudo da ética, portanto, os processos e movimentos que não são livres, pois o momento em que são realizados escapam ao conhecimento e à vontade, por exemplo, o reflexo do braço quando lhe cai uma água quente, o conteúdo de um sonho, o processo digestivo etc.
    Aos atos livres do homem, ou seja, àqueles que estão submetidos à razão, a ética chama ATOS HUMANOS e aos que não são deliberados chama de ATOS DO HOMEM.    Os atos deliberados, por estarem sujeitos a livre vontade do homem são também passíveis de qualificação moral. Portanto podem ser qualificados como bons ou maus. Assim sendo o homem livre pode também ser considerado responsável pelas sua ações deliberadas.
    Os termos “Moral” (em sentido geral) e “livre” tem, portanto a mesma extensão. Todas as ações livres e somente elas são morais. Logo tudo aquilo que o homem faz e que não é determinado por mero instinto ou por algum tipo de necessidade causal é projetado pela razão prática e desejado pela vontade e isso significa dizer que o homem é governado moralmente.

2. O ordenamento moral da conduta
    Todas as ações livres são morais, porém nem todas são moralmente boas. Algumas atitudes merecem aprovação moral, ao passo que outras devem ser sempre rechaçadas.
     Esse processo acontece no homem porque este é dotado de uma certa estridência estética (estética moral) que o atrai ao bem e o aparta do que é mal. Fazendo uma breve ponte com a Metafísica, aprendemos que a Bondade é um transcendental e que portanto se difunde e é justamente através dessa estridência estética é que ela se difunde no homem.
     A ética filosófica, no entanto não se limita em dizer que as ações livres são passíveis de qualificação moral. Sua missão vai muito além. Deve orientar o homem para que saiba ordenar suas ações voluntárias de modo que sejam moralmente boas. Portanto, o saber ético deve refletir sobre a bondade e a maldade especifica da ações livres.
    Na ética a Nocômaco, Aristóteles afirma que ação e bem são termos correlativos;

Toda arte e toda investigação e do mesmo modo, a ação e a eleição, parecem tender a algum bem. Por isso se diz com razão, que o bem é aquilo a qual todas as coisas tendem.”
 (Aristoteles, Etica a Nicômaco, 1-3)

    Não há nenhuma ação humana que não tenda naturalmente a algum bem e só se pode falar em bem em sentido prático (que também recebe o nome de fim) se se trata de um bem realizado ou realizável através da ação. Isto equivale a dizer que ninguém comete uma ação que seja má em sentido absoluto, sob todos os aspectos.
    Porém isso nos parece estranho, pois a experiência prática nos mostra que o homem é capaz de cometer ações más. Daí que observamos que na realidade a uma distinção entre bem verdadeiro e bem aparente, ou seja, o que é bom de fato e o que apenas parece bom.
    À luz dessa distinção FUNDAMENTAL, podemos dizer que a missão da ética e nos ajudar a distinguir o que é um bem aparente e o que é um bem verdadeiro.
    Ao explicar dessa forma, para compreender a missão da ética é necessário deixar claro que a ela nos ensina o que é bem aparente e o que é bem verdadeiro somente enquanto estão submetidos à vontade e isso se faz necessário para compreender de que tipo de bem e de que tipo de mal ela trata. Veremos ao longo do curso o que pode ser chamado de virtude ou vício.
   Essa distinção é necessária porque podemos observar admirados, por exemplo, a forma inteligente com a qual é realizado um roubo, um homicídio, que na realidade são atos imorais (maus). Nesses casos há um “algo” bom (a inteligência oo ordem a qual foi submetido o roubo), porém a bondade a qual acabamos de nos referir não procede de uma vontade boa. Portanto, não basta boa vontade e sim vontade boa, pois essa bondade não é meramente uma capacidade técnica operativa.
    Observamos ainda em nossa conduta que o simples saber moral não é suficiente para ser de fato um homem bom, da mesma forma que não se aprende a tocar piano apenas conhecendo a vida de Bethovem ou conhecendo algumas notas musicais. Antes, o saber teórico e o saber prático devem estar unidos de forma harmonia, boa, para que fato uma ação seja boa.
    As ações são virtuosas ou viciosas na mesma medida em que são ordenadas pela vontade livre e por isso afetam o homem em sua totalidade, portanto o faz bom ou mau em sentido absoluto.
(fazer referência a errônea teoria da opção fundamental de Marciano de Vidal, Veritatis Spelndor)
    É justamente deste Bem Integral que se ocupa a ética, que considera o homem em sua unidade e totalidade, pois uma ação humana nunca está separada de quem a realiza, desde que o faça livremente. Assim sendo não se pode separar uma ação de seu autor.
    Uma ação é boa, quando sua finalidade é boa e também a intenção, como veremos ao longo deste curso.
    Uma ação livre nunca é um fato isolado da vida de quem a realiza, pois a vida é constituída justamente por escolhas que sempre estão destinadas a um fim. Chegamos portanto a um conceito clássico chamado “Fim Ultimo” felicidade, ou bem perfeito do homem.
    Por isso a ética é o saber filosófico cuja missão é dirigir a conduta humana ao bem perfeito ou fim ultimo da pessoa.

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