III Domingo da Quaresma


Neste terceiro Domingo da Quaresma a liturgia nos apresenta uma das imagens mais belas do Antigo Testamento, a sarça ardente, na qual a presença do Senhor é demonstrada através de um fogo que arde sem consumir.
            Em Toda a Sagrada Escritura observamos outras diversas manifestações da presença do Senhor representadas através do fogo. Como os olhos de fogo do Messias expresso pelo profeta Daniel e também por São Joao, no Apocalipse, quando vem aos apóstolos através de línguas de fogo etc. Mas por que a Sagrada Escritura apresenta o fogo como uma forma de presença de Deus ou da sua graça?
            O fogo é uma realidade da qual todos nós temos experiência. Já vimos e sentimos os seus efeitos. Em outros tempos foi um dos elementos utilizados pelos filósofos da escola Jônica para explicar a origem do cosmos, é ainda uma realidade extremamente útil e necessária à vida humana. O fato é que tudo aquilo que é submetido ao fogo não permanece igual, muda de forma e às vezes também de substância, esquenta-se, ilumina-se etc.
            Podemos estabelecer um paralelo com a graça de Deus. Tudo aquilo ou todo aquele que que se submete a ela também não permanece igual, se esquenta, se ilumina, adquire nova forma, brilho! Nessa perspectiva podemos trazer este “fogo” da graça de Deus para o centro da nossa meditação de hoje.
            São Joao da Cruz, ao nos falar da Noite Escura apresenta-nos uma imagem muito bela de como esse processo se realiza em nossa alma: quando o fogo se aproxima da lenha começa por iluminá-lo, dar-lhe brilho, aquecê-lo. À medida que o tempo passa o lenho vai se tornando escuro, vai perdendo suas características habituais, transformando-se. A princípio este processo pode parecer um empobrecimento, do ponto de vista visual, mas depois, se observamos com paciência, o lenho vai se misturando com o fogo, a ponto de tornar-se brasa e mesmo ser confundido com o próprio fogo, de modo a não se saber mais o que é brasa e o que é fogo.
            Estou convencido que é este o processo que se dá em nossa vida quando permitimos que a graça de Deus nos envolva profundamente. Num primeiro momento ela nos aquece, ilumina, dá brilho, com o tempo temos a impressão de nos empobrecer, e é exatamente o que acontece, vamos nos empobrecendo de nós mesmos, das nossas opiniões pessoais, gostos, manias, etc a ponto de às vezes não nos reconhecermos mais. Mas se somos pacientes e sobretudo perseverantes, notamos que uma grande obra de amor está ocorrendo em nossa vida. Com o tempo a transformação é tão grande, a ponto de se nos confundirmos com Deus. Passa a ser Ele a agir em nós e através de nós. “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim (Gl 2,20).
            O processo não costuma ser rápido e nem mesmo fácil, porém, o que conta principalmente é a perseverança e, sobretudo, deixar que o “fogo” nos aqueça, ilumine e depois nos faça brilhar no reino de Deus. Deixar Deus ser Deus, procurar não impedir a sua ação em nossa vida, especialmente manter a vida espiritual, sermos sinceros na direção espiritual e frequentes nos sacramentos da penitência e da Eucaristia, eis o nosso empenho!
            “Na conversão e na calma está a nossa salvação, no abandono confiante está a nossa força. O senhor nos espera para nos dar a graça (cfr. Is 15, 18)
            Não devemos esquecer-nos também que o Senhor nos procura, espera de nós uma resposta, e também encontrar frutos de apostolado e entrega em nossa vida como ouvimos no evangelho da missa de hoje “(...) eis que três anos há que venho procurando fruto nesta figueira e não acho. Corta-a: para que ainda ocupa inutilmente o terreno? (Lc 13, 8) Podem parecer palavras duras, porém não são outra coisa que demonstração do grande interesse e amor que Deus tem por cada um de nós. Não nos é indiferente e nem distante.
            Caríssimos irmãos e irmãs, especialmente neste período único da vida da Igreja e da humanidade, não podemos estar indiferentes, como se o Senhor esperasse algo apenas dos cardeais, na eleição do novo papa. Não! Cada um de nós temos a responsabilidade de viver com fé este momento, de interceder, de oferecer cada momento e circunstância da nossa vida em obra de amor, de entrega. Oferecer também o nosso tempo de oração, unido à nossa penitência no cumprimento ordinário de nossas ocupações. Rezar, amar, perdoar e servir.
            A virgem Maria intercede por cada um de nos e nos acompanha de uma forma singular, como boa Mãe, não nos negará tudo aquilo que necessitamos para bem cumprir a vontade Deus em nossa vida.
            Deixemo-nos aquecer, iluminar e abrasar pelas chamas do amor misericordioso do nosso Deus. Bendizei o Senhor, ó minh’alma. Não se esqueça de todos os seus benefícios (Sl 102, 2).

           
            

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